Não era possível, as coisas tinham que estar acontecendo por algum motivo. Os fatos repetidos, as dores repetidas. Algo tinha que estar errado, ou muito certo na vida dela.
Sentou-se naquele banco circular (bem podia ser um balanço!) e pôs-se a pensar como as coisas estavam acontecendo, e porquê. As decisões tinham que partir dela. Mas acreditava que alguém estava brincando de traçar o destino dela, uma brincadeira bem sem graça, por sinal.
As coisas estavam certas, tinham que estar. Não havia muitas opções além. A vida não é brincadeira. E é muito curta pra fazer todas as coisas que queria fazer.
Entendeu a dor dele, sentia a mesma dor em si, de novo e de novo. O verdadeiro problema é que sempre ela que ficava com as lembranças, com as cartas, os bichinhos de pelúcia, as fotos, o cheiro, os momentos a dois, o relance o espelho, o mesmo lugar no banco, na sala, na vida. Ela que era obrigada a lembrar todos os instantes, todos os momentos. E sentir a dor se agudar, de novo e de novo.
Era assim, seguia assim. Uma dor ali, uma cicatriz aqui, uma lágrima acolá.
Viver é isso. Esse dorme e acorda. Sentir e não sentir. Querer e não acreditar. Decidir e ter que aceitar.
O melhor de tudo: mais um cheiro, mais um sorriso, mais um olhar, mais uma briga, mais uma vontade de abraçar em seu ser. Por fim, mais uma saudade.
"A Estrada em frente vai seguindo
Deixando a porta onde começa.
Agora longe já vai indo,
Devo seguir, nada me impeça;
Em seu encalço vão meus pés,
Até a junção com a grande estrada,
De muitas sendas através.
Que vem depois? Não sei mais nada."
J. R. R. Tolkien
Letícia Christmann