Não escorregue, caia de uma vez!

em terça-feira, setembro 29, 2009
No dia seguinte era o Toledo:
— Não sei o que eles pretendem, nem quero saber. Estou velho para essas novidades. Em verdade já nasci velho, como você. A diferença é que você tem uma chance e eu não tenho.
— Que chance eu tenho?
— A de romper com seu passado. Abrir mão de tudo o que vem constituindo você: sua sinceridade, sua fidelidade a si mesmo. O que é a sua sinceridade? A sinceridade de quando você não sabia nadar ou de quando você se tornou campeão?
— Hoje não sou capaz de nadar mais de duzentos metros — sorriu ele.
— Pois nade esses duzentos metros. Não se detenha diante de nada. Comece enquanto é tempo, rompa com tudo e cora todos! Quero você capaz de mijar na minha sepultura.
— Que devo fazer? — perguntou ele, impressionado.
— Não blefe. Jogue todas as cartas na mesa. Não fuja. Não tenha medo de perder. Nada mais digno do que, tudo feito, depois que não se poupa nada, saber dizer: perdi. Porque essa é a grande verdade: perdemos sempre...
— Eu não nasci para perder.
— É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância — Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo
é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e Deus o ajudará.

(Trecho do livro O encontro marcado, Fernando Sabino)



Acabei de ler esse livro hoje. E o que achei? Maravilhoso! Me identifiquei muito com ele. Me fez crescer, me entender... Enfim, sabe aqueles livros que você tem como os melhores, aqueles que estão no rol dos favoritos e, de verdade, inesquecíveis? Pronto, ele é um desses.
O encontro marcado me marcou, verdadeiramente.
Outro dia venho falar melhor sobre ele.



Postado por Erica Ferro

"Fantasmas me limitam e me contêm!"

em domingo, setembro 27, 2009
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, 6-1-1923



Postado por Erica Ferro

Mãos dadas...

em quinta-feira, setembro 24, 2009
Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade



Postado por Erica Ferro

Da procura um encontro...

em terça-feira, setembro 22, 2009
"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre
começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que
seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho
novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do
sono uma ponte, da procura um encontro."

(Trecho do livro O encontro marcado, Fernando Sabino)



Postado por Erica Ferro

Timidez

em segunda-feira, setembro 21, 2009

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...


— palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,


— que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...


— e um dia me acabarei.

(Cecília Meireles)

•••

Postado por Erica Ferro

Xixilado!

em sábado, setembro 19, 2009
De repente, percebi que tenho afeição por algumas palavras antiquadas. Por exemplo, sou da turma que usa e defende o pronome relativo cujo, cujo emprego dá ao texto uma cara assim, sei lá, de velho. Jovem que é jovem não fala cujo. O dito cujo vai preferir outro termo, e minha vingança aqui é chamar esse suposto jovem de cujo. Pensando bem, acho que esse meu gosto pelo vernáculo antigo tem alguma influência da minha avó paterna, com quem pude conviver na infância, até sua morte, em 1978.

Eu achava o máximo ela ter nascido em 1890. Vinha do então século passado, o Século 19 – por ironia, hoje eu é que sou do século passado, o 20. Pois bem, eu me divertia perguntando sobre coisas de dantes. Aí, descobri que a mulata Sinhá Madalena, toda encarquilhada, era ainda mais velha que minha avó, coisa de uns cinco anos. Então nascera antes de 1888, tempo da escravidão ainda! O projeto de jornalista aqui, em fase escolar, atacava: Sinhá Madalena, como era a escravidão? Ela contava que tinha nascido “fôrra”. E eu: ah, então era por causa da Lei do Ventre Livre! E Sinhá Madalena me olhava sem entender direito que lei era essa e retomava a prosa com minha avó. Devia pensar: que menino saliente!

Saliente era um desses termos que me faziam rir demais. Não tanto quanto xixilado, que significava o extremo da “saliência”. Na fase saliente, a criança está atrevida, passada das contas. Na fase xixilada, já é descaramento total, falta de respeito aos mais velhos. Era quando minha avó dava a sentença: tome estilo, menino! Nunca fui alvo dessa reprimenda, era bem-comportado, tinha “estilo”. Já meu irmão... um xixilado, sem estilo.

Havia outros termos e expressões associados a xixilamento – ou o certo seria xixilagem? Tudo demarcava o respeito incondicional que os jovens devem dedicar aos mais velhos. Se a criança se xixilasse, cabia ao velho perguntar: está tomando sopa comigo? Ou então: está pensando que sou seu pariceiro?

Pariceiro, xixilado, saliente: termos cujo uso o tempo eliminou. Azar! Sigo gostando da graça antiga deles. Coisas de avó. E nem penso em abrir mão do uso do cujo.




Postado por Erica Ferro

Qual a trilha sonora da minha vida?

em sexta-feira, setembro 18, 2009

O canto do galo ao raiar do dia, os pássaros cantando uma linda melodia, o som dos meus passos firmes e determinados em viver mais um dia como se fosse o último - até porque nunca se sabe quando será o último.

Tem sons mais originais do que os da natureza? Não, de maneira nenhuma, mas muitos de nós não contemplamos isso. É uma pena.

Mas tudo bem, não quero falar só dos sons naturais . Quero falar das músicas que marcaram minha vida...

...

Quais são? Ao longo dos meus 19 anos, já vivenciei tantas coisas, já mudei tanto, que não consigo me recordar da minha música preferida de anos atrás, porém posso dizer que tal música ficou gravada em algum lugar da minha mente e da minha alma e, certamente, quando eu a ouvir outra vez, sentirei a mesma emoção que senti ao viver aqueles momentos marcados por ela.

Música adorna nossos momentos, tornam doces e inesquecíveis.

Música... Já ouviu uma música hoje?

(Erica Ferro)

Não desista!

em
Não desista

Assim que eu penso que não posso aguentar mais
Que me decepcionei vezes demais
Um dos meus põe os braços em volta de mim
e diz que se eu
não desistir, então ficarei bem.
Algumas vezes na vida, eu fui tão bem que
Fiquei algum tempo no topo.
Também já estive em ruínas
desmoralizado e largado.
É assim que as coisas são,
Você nunca pode esperar mais,
Metade do tempo você está ganhando
E o resto você está no chão
Este mundo está tão cheio de beleza
quanto de ódio,
É assim que as coisas são
Algumas coisas nunca vão mudam
Concentre-se no positivo, e use a cabeça
Nunca desista, e ficará bem.
Alguns deles gostam de drogas,
e alguns deles gostam de brigar.
Negatividade inspirada em algum lugar
todas as noites.
Temos que dar o exemplo
para os fracos de mente.
Não pare de distruibuir sabedoria
até o final dos tempos.
Tantas pessoas com ódio,
tantas são desajustadas.
Você pode pagar um preço,
quando a vida se ajustar novamente,
é um fato concreto que você
recebe o que dá,
e você pode causar um impacto
no jeito com quem vive a sua vida.

(Nick Traina)



Adoro essa mensagem do Nick, me emociona e me anima toda vez que leio.
Nick... se quiserem saber mais sobre ele é só clicar aqui.
Simplesmente não consigo descrevê-lo, falar dele me emociona, por isso prefiro que vocês cliquem no link e conheçam um pouco do Nick Traina.


Postado por Erica Ferro

Ismália

em terça-feira, setembro 15, 2009
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens
Postado por Letícia Christmann

Coisa com coisa

em domingo, setembro 13, 2009
Vamos lá, vamos lá, sem muito pensar, deixando as imagens virem. Este é um exercício de livre associação, somente para ver aonde vamos parar, como brincadeira de ligar coisa com coisa. Primeira imagem? Huummm... Aqui, Júpiter, o planeta, num postal à minha frente.

Júpiter sugere a Júpiter 2, a nave do pessoal de Perdidos no Espaço. Vejo o robô sacudindo os bracinhos e avisando “perigo, perigo” e o Dr. Smith xingando-o de lata velha agourenta. O Dr. Smith era um chato intragável.

Intragável lembra um remédio do qual tomei frascos e frascos na infância, chamado Emulsão de Scott. Legítimo óleo de fígado de bacalhau, tido como fortificante. Minha mãe sempre acreditou que aquele purgante me faria engordar.

Engordar evoca Dona Redonda, personagem de Wilza Carla na novela Saramandaia, de Dias Gomes, exibida nos meados dos 1970. De tanto comer, Dona Redonda explodiu. O povo da cidade ia, então, trazendo pedaços da morta para entregar ao pobre viúvo, Seu Encolheu.

Encolheu lembra o período veloz de crescimento na infância e adolescência, quando a calça do uniforme escolar ia ficando curta e me chamavam de “calça pescando-siri”, com os tornozelos cada vez mais à mostra.

Tornozelo puxa as dores lancinantes de quando eu dava com a canela por acidente na quina da cama da minha irmã. As vistas escureciam, eu via estrelas.

Estrelas eu contava no céu, mesmo com medo de criar verrugas no dedo. Aliás, já tive verrugas no polegar e nos joelhos. Um dia me ensinaram a amarrar a verruga com fio de crina de cavalo, para ela cair, mas de nada adiantou. Ela caiu quando bem quis, sumiu com o tempo.

Crina de cavalo lembra Boneca, uma mula cinza que meu pai tinha e que um dia deu uma dentada nas costas de meu irmão, quando ele ia passando por baixo da corda dela, esticada na porta.

Dentada puxa do fundo do meu lago da memória umas traíras pescadas com outros moleques. As pestes estavam fora da água há horas, mas ainda avançavam em nossos dedos desavisados, talvez dando prova de serem mesmo traíras.

Pronto: de Júpiter cheguei nas traíras. Agora, leitor, faça sua viagem a partir das traíras.

(Nivaldo Pereira)

•••

Postado por Erica Ferro

Felicidade Reinará (8)

em sábado, setembro 12, 2009
Pois sabe-se que o tempo passou.
E que tudo que vai, volta.
Volta melhor, volta pior, volta diferente, volta igual. O importante é que volta.
Tenho pensado a direção de tudo, dos sonhos, de tudo que você me faz pensar, me faz lembrar.
Penso e percebo que era tudo desbotado, sem cor.
As coisas estão mais coloridas agora, mais bonitas agora. Onde você está. Por que você está. As coisas tão mais lindas!
Entendo que tudo está em seu lugar.
Que meu coração bate mais acelerado quando você está por perto.
Que tudo está certo agora.
Você é parte de mim...
Parte do meu todo.
O pedaço que faltava.
Antes parecia tão distante. Tudo distante, você distante. Fora do meu ambiente de sonhos já. Ou apenas participante dele.
Você faz sentido agora.
Precisamos passar por muitas coisas para realmente dar valor.
E você é o que eu tenho de mais valioso na minha vida.
Me faz sorrir.
Me faz respirar.
Me faz ter vontade de continuar.
Sinto que você é o que me faz viver.
Eu precisava de um motivo.
De um alguém que me completasse...
E eu encontrei você. Ou será que foi você que me encontrou?
É química. E é reação sem explicação. Muito menos separação.
Tudo isso foi só pra dizer...
Que eu te amo.
E, não importa se é 4 meses ou 4 décadas o objetivo.
O que importa é que você me completa.
E, acima de tudo, que você realmente existe. E que está do meu lado.

Letícia Christmann
ps. Vih, esse é pra você!

Abaixo essa falsa sobreposição!

em sexta-feira, setembro 11, 2009
Pré-julgar, discriminar, humilhar, rir e traumatizar. Isso é o que faz um preconceituoso.

Nós, seres humanos, somos diferentes um dos outros, tanto em questões físicas como em questões de gosto e opinião. Temos nossas limitações e peculiaridades.
Com base nisso, deveríamos ter a consciência de nossa diversidade e abolir qualquer tipo de sobreposição.
Entretanto não é o que vemos, o que fazemos.
Muitos de nós excluem de seu grupo social os que julgam indesejáveis e indignos de sua companhia e vivência. Preconceito racial, preconceito religioso, preconceito com os ditos "anormais", "estranhos"... não importa qual tipo, é tudo tolice, é falta de reflexão e senso de diversidade.

- "Mulher com mulher... Ih, dá jacaré!"
- "Homem com homem... Ih, dá lobisomem!".
Piadinhas, coisa de gente que não tem muito o que fazer. Ou tem, e prefere não fazer.
Opção sexual ou se nasce assim, predestinado a gostar de algo? Heterossexual, homossexual, bissexual...
Várias opções. Cada um escolhe a que satisfazer, oras.
Na bíblia, é pecado esse ato homossexual. "Toda linha do poema é a verdade suprema, só porque está no papel."
Bem, é algo complicado e complexo isso de regras baseadas na bíblia. Há quem discorde delas, há quem brigue e quem as defenda com unhas e dentes. Mas estou fugindo do tema...
A questão é o preconceito, a intolerância com as preferências sexuais de determinado indivíduo. Então, se é a preferência, é algo bem pessoal, certo? Não há porque julgar e discriminar. Cada um sabe dos seus desejos e escolhe o que os satisfazer. Ao fazer uma escolha, estamos destinados à desafios, cabe a nós sabermos lidar com eles. O que importa é nós sentirmos bem com o que nós escolhemos.

Criaram cotas para negros e deficientes para "facilitar" a entrada destes na universidade.
Por quê? Por acaso a capacidade de raciocínio de um negro ou de um deficiente físico é menor do que a de um branco, aquele dito normal?
É claro que não. Tudo é uma questão de disposição e entrega ao que se faz; é uma questão de dedicação que dará a vitória no vestibular, e não o fato de ser branco/negro/deficiente.
Na verdade, é uma maneira de "tapar" o buraco de anos. O buraco cavado pelas enxadas do preconceito e da discriminação. Mas não é assim que se corrige erros de anos. E como é?
Ora, largando essas enxadas, destruindo-as, exterminando todo e qualquer conceito antecipado em relação a qualquer pessoa e situação.
E aqueles casos absurdos e intoleráveis de negros sendo presos ou mal vistos em lojas de "luxo"?
Ser negro é sinônimo de ser ladrão e pobre, por acaso?
Parvoíce de pessoas com alma e visão pequena, julgando pessoas, humilhando-as, criando traumas na mente dos "discriminados".

- "Deus do céu! Olha, fulano. Um centro de macumba ali, cruz credo!"
- "Eita! Mas esses evangélicos são uns doidos mesmo, hein? Ficam pulando e gritando como desvairados. Por isso que eu prefiro a minha igrejinha católica!"
- "Isso é um absurdo, adorar um santo feito de barro, que não escuta e não pode interceder por ninguém. É por isso que sou evangélico."
Intolerância religiosa. A sobreposição de um grupo ao outro. Cada um com sua verdade suprema e indissolúvel, e lutando para que ela seja a verdade de todos. É inútil... Cada um continuará com suas convicções e fé, a não ser que queira mudar por livre e espontânea vontade. À base de pressão, não funciona.
O que deve nos interessar é o que está sendo alimentado em nossas almas e corações. A nossa satisfação espiritual.

E aqueles olhares tortos para os deficientes, como quem sente nojo e desprezo? E aquele olhar de pena, de compaixão que são dirigidos a eles?
Eu faço parte deles, eu sei o que é. Sou deficiente e sei bem como é esmagadores e traumatizantes esses olhares.
Me sinto pequena e inútil mediante à esses olhares.
Porém, um lapso de sanidade e revelação me vêm, eu não sou pequena, não sou inútil, não sou digna de pena - não pena por minha condição física-, não sou desprezível. Eu sou uma pessoa, como qualquer outra, única e indispensável, insubstituível. Sou um alguém que sonha, que tem um coração, um coração que pulsa e que sente intensamente o preconceito machucar e arder dentro do peito e da alma. Mas eu sou forte, resisto aos olhares, às situações indesejáveis e traumatizantes.
Não é fácil. Há traumas que me atormentam com uma certa frequência. Quando amanhece e o sol aparece, busco eliminar todos os fantasmas e traumas da minha mente, saio às ruas e sinto esse mesmo sol queimando na pele e me dizendo: -"Você está viva, isso que importa, menina! Deixe que olhem, que apontem, deixe que critiquem, que zombem! Eles são os bobos, os pequenos e deficientes interiormente. Se a sua limitação é física, a deles é mental. E é uma limitação que se escolhe, que não é de nascimento. Ou seja, é burrice. Viva a sua vida com alegria, com força e persistência. Faça o que tiver que fazer, realize seus sonhos, busque alcançar suas metas. Você consegue vencer! Mire-se no fim da estrada e desvie dos obstáculos que só querem te fazer cair, te destruir."
Sim, o sol me diz tudo isso.

Tenho tanto entalado na garganta em relação a esse assunto, não terminaria hoje... Não terminaria nunca. De verdade.
Por isso, só quero ressaltar a repulsão que tenho por ideias antecipadas e por discriminações tolas e infundadas.

"Abaixo o preconceito e a discriminação! Abaixo essa falsa sobreposição!"

(Erica Ferro)

Onda;

em quinta-feira, setembro 10, 2009
Numa onda de inspiração
Quero-me afogar,
Nela desaparecer
E de novo me encontrar.
Quero ser só um pensamento,
Um sentimento embalado
Que deriva no mar
Sem nunca se perder.
Um ser imaginado
Inventado por mim
Sem vestígios de dor

Mas como posso viver
O meu sonho cor-de-rosa
Neste mundo já sem cor?

(Ana Filipa Silva)



Lindo poema, não? Me identifiquei muito desde que eu o vi pela primeira vez no blog da Ana Filipa. Uma mocinha portuguesa de 14 anos apenas. Incrível, não é? Ela escreve como "gente grande". Prova de que não é idade que determina a maturidade de alguém, e sim as suas experiências e sua vontade de aprender e a sentir as coisas da vida.
Ana e eu nos tornamos amigas virtuais, não faz muito tempo, mas sinto como se eu a conhecesse há muito tempo.
Ela é uma pessoa agradabilíssima, sabem? Conversas agradáveis temos no MSN. Falamos da vida, da suas dores e alegrias, falamos de livros, de amor, de dor, solidão...
Falamos do que vem ao nosso coração naquele momento.
Gosto muito de ti, Ana.
Saiba disso, pequena (grande) poetisa portuguesa.
Fica registrado aqui a minha pequena (mas significativa) homenagem.

Erica Ferro

Perséfone vem aí

em sábado, setembro 05, 2009
Acordo com o chilreio animado de um pardal no telhado vizinho, adivinhando primavera. Isso já aconteceu antes, já falei disso aqui. E eis tudo de novo, a repetição de ciclos que dá ordem à vida e nos protege do caos. Se ouvissem esse meu pardalzinho matinal, os antigos gregos diriam: Perséfone está voltando para casa e Deméter mostra sua alegria na natureza. O mito que envolve essas personagens, embora doloroso, é carregado de poesia. Vale a pena recontá-lo, agora que o sol entrou em Virgem e foca nossa atenção nas etapas naturais.

Pois bem. Deméter era a deusa da terra cultivada. Regia as plantações e as colheitas, o trigo e a arte do pão. Tinha uma filha única, a mocinha Core, a quem adorava. Mas essa adolescente já havia despertado o desejo do sombrio Hades, ou Plutão, deus do mundo subterrâneo, senhor de maneiras nada gentis. Certo dia, enquanto brincava na campina, Core foi atraída por uma flor, um narciso. Mal tocou na flor, a terra se abriu, dela saindo Hades em sua carruagem negra, raptando Core para o além. Um grito da filha: foi só o que Deméter ouviu. No reino de Hades, este logo garantiu sua união com a jovem, estuprando-a. E Core virou Perséfone, rainha do mundo dos mortos.

Acontece que Deméter ficou inconsolável com o sumiço da filha. Abandonou o Olimpo e vagou pelo mundo, maltrapilha, procurando, procurando, ninguém sabe, ninguém viu. Com tanta dor e tristeza, a terra foi ficando arrasada, nada mais crescia, a fome grassava. Deus dos deuses, Zeus resolveu intervir. Foi procurar Hades, seu irmão, que não quis conversa. Negocia daqui e dali, a vida em perigo com a depressão da mãe-terra, Hades consentiu num acordo. Uma parte do ano, Perséfone ficaria com a mãe, e outra parte, com ele, o agora marido.

Assim, a cada outono, Deméter chora a descida de Perséfone para o mundo dos mortos; a natureza se torna melancólica, até o frio do inverno. Mas, na primavera, é tempo da alegria do reencontro de mãe e filha, e tudo parece sorrir de contentamento. O pardal no telhado vizinho também parece saber por instinto desse tempo e faz festa para Perséfone.




Postado por Erica Ferro

Poesia...

em terça-feira, setembro 01, 2009
    Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade

***

Postado por Erica Ferro
 
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