Do impossível

em terça-feira, maio 22, 2012
Cansei-me dessa vida fel
Transmutei tudo em mel

Joguei fora as minhas flores de papel
Plantei lírios
Colhi margaridas
Cheirei rosas

Comprei um litro de vinho
Me embriaguei com poesia

Sonhei amando-te sob a luz do luar
No meu delirante sonho, eras meu

Acordei em prantos
Toda desencantos
Com o gosto amargo do impossível
no céu da boca

Erica Ferro

Estação

em sexta-feira, maio 04, 2012
- Tomou um chá de sumiço!!
Desesperada ela olhava em volta e o procurava, mas por onde os olhos passavam naquela estação de metrô, não o via mais. Virava-se para trás, novamente para frente, observava com atenção as catracas, mas apenas rostos desconhecidos, por todos os lados.
Ele estava ali no instante anterior, aquecendo-a, rindo, brincando. Mas algo se perdeu em pouco tempo, e ela sentia que seu mundo ruíra aos poucos. Por fim, o golpe fatal: ele anunciara que não poderia mais ficar, pegara sua mala e se retirara do mundo dela.
Afinal, onde errara? Se apegara tanto... Amara da melhor maneira que pôde. Não poderia acreditar que eles não foram felizes, ainda que outrora... E que isso não fizera bem para ele também. Porém, o viu se afastar, com a mala em uma mão (em que a aliança não mais brilhava entre os dedos) e ela ficara ali, perdida entre desconhecidos e, quando caíra em si estava agoniada, procurando por ele.
Pode ser que os olhos cheios de lágrimas não a ajudaram a enxergar, a procurar direito. Colocara as mãos nos bolsos, incapaz de arredar os pés da estação. Achara uma carta dele, com poucas palavras:
"Minha querida, estava tudo perfeito demais. O mundo não é assim. Preciso ver o que está errado. E não posso levá-la para o abismo junto comigo. Este é o começo do fim. E precisamos ser fortes nessa caminhada. Me odeie, por favor. Quem sabe um dia não nos encontremos novamente, mais maduros, menos felizes, sabendo de todas as imperfeições do mundo. Eu te amo, pra sempre. E levo seu sorriso, mas também toda sua agonia, raiva e suas lágrimas desse último momento."
Não conseguia odiá-lo. Mas também não o entendia. Enquanto as pessoas passam a vida procurando o grande amor, ele se desfazia de um para descobrir a podridão do mundo. Talvez o amasse mais por causa disso. Mas sentia que ele estava sendo injusto consigo e com ela.
Por fim, pegara o primeiro trem que vira, sentara-se e rumara ao desconhecido. Começaria em outro canto, onde o destino a levasse. O coração sufocado, o olhar distante. 
Nunca mais fora a mesma. Mais um pontinho de tristeza e infelicidade no mundo.
Nunca mais o vira.
"Não esconda a tristeza de mim, todos se afastam quando o mundo está errado. Quando o que temos é um catálogo de erros, quando precisamos de carinho, força e cuidado. Este é o livro das flores. Este é o livro do destino. Este é o livro de nossos dias. Este é o dia de nossos amores."
(O Livro dos Dias - Legião Urbana)


Letícia Christmann
 
imagem do banner Design