Ar gélido

em sexta-feira, março 25, 2011
Andava pelo lado direito da calçada esbarrando nas pessoas. Havia saído pela porta da frente aquela noite, com uma mochila nas costas, o cabelo preso e esperando o mundo desmoronar aos seus pés, ou ajoelhar. Não sabia direito o que esperar. A ansiedade martelava o peito como os sinos da igreja as seis da tarde.

Entrou no ônibus e, como sempre, lotado. Cansada de reclamar, encaixou-se num canto e ali ficou. Naquela noite o vento soprava forte na Av. Paulista.

Arrumou o cachecol rosa e branco, fechou a blusa e colocou o gorro, mas ainda assim sentia o frio circular dentro de si, impregnado no seu sangue.
Encostou-se próxima ao prédio da Gazeta e aguardou. Um, dois, três cigarros. Finalmente ele chegara. O frio na barriga convencional inundou-a por dentro, fazia quase um mês que não se viam. O sorriso era o de sempre. O olhar o mesmo. O caminhar idêntico. Mas tinha algo diferente. Talvez no abraço com tantas roupas entre eles. Ou no carinho do cabelo. Não sabia dizer o que era, mas havia algo de diferente no ar.

Entendeu, depois de muito tempo que aquele era o começo do fim. A partir daquele momento, ele não era mais o mesmo. Porém, ainda podia sentir o ar gélido bater no seu rosto aquela noite. E como as lágrimas que rolaram pareciam que iam congelar. Na verdade, congelaram. Ainda resta alguma coisa delas no rosto.
E, por fim, aquele olhar, aquele sorriso e aquele caminhar se perderam na lembrança. O vira outras vezes depois? Sim, claro. Mas tudo aquilo que a fizera se apaixonar já não pertencia mais a ele. Ele mudara, irreversivelmente. E ela mudara, descontroladamente. Mas, alguma coisa... Sempre resta.

"Dizer 'pra sempre' é bem menos do que sentir na carne, querer de verdade. E tem coisas que não vão sumir, você sabe. Tem um lugar em mim que é só teu, e nada vai mudar porque é meu. Mesmo que a gente deixe errado o que a gente escolheu." (Ao que é bom nessa vida - Dance of Days)

(Letícia Christmann)

O Novo Mundo

em domingo, março 20, 2011
A mudança das coisas se tornam imperceptíveis aos olhos. Pouco a pouco ela ia se transformando e, a partir dos pequenos detalhes, ela se tornava uma nova pessoa. Tinha uma mulher e uma menina guardada e que aparecia conforme convinha e, mesmo seu coração sendo bombardeado, ela se recuperava, como uma cidade arrasada é obrigada a renascer após a guerra. Porém, ia se endurecendo, e cada vez menos sentimentos adentravam a bolha que formou ao redor de si. Destruia e reconstruia, fazia tudo ao mesmo tempo, mas fazia questão de não fazer mais nada. Notícias do seu mundo antigo e dos seus amigos antigos chegavam cada vez com menos frequência. Lembranças, saudade, cumplicidade não conseguiam mais perfurar a bolha. Envelhecia, esquecia e não fazia mais questão de sentir. Idolatrava a solidão. Tinha um mundo novo pela frente, no qual levava o coração na mão e mostrava as cicatrizes, indiferente a elas, apenas para explicar porque tinha se tornado fria, insensível. Controlava tudo, sua mente, seus sentimentos e seu mundo. Uma estranha, no meio de estranhos. O mundo se reconstruia, e os indiferentes tornavam-se todos iguais. Cultura de massa, indiferença de massa. Todos, uma massa homogênea. E o mundo?! Uma grande farsa.

"O que acontece - suspirou - é que o mundo vai se acabando pouco a pouco e essas coisas já não vêm." - Úrsula explicando ao bisneto sobre a lâmpada dos desejos e tapetes voadores.
(Gabriel Garcia Marquez - Cem anos de solidão)

Letícia Christmann

A estrada não seguida

em sábado, março 12, 2011
(tradução livre)
Duas estradas divergiam em um bosque amarelo
e lamentando não poder seguir por ambas
e ser um viajante, longamente eu permaneci
e olhei uma delas até o mais longe que pude,
para onde ela sumia entre os arbustos.
-
Então, segui a outra, igualmente bela
e tendo talvez clamor maior
porque era gramada e convidativa;
Embora quanto a isso, as passagens
houvessem lhes desgastado quase que o mesmo,
-
e ambas naquela manhã se estendiam
em folhas que nenhum passo enegrecera,
Oh, eu guardei a primeira para um outro dia!
Contudo, sabendo como um caminho leva a outro,
eu duvidei de que um dia voltasse.
-
Eu estarei contando isso com um suspiro
a eras e eras daqui:
Duas estradas divergiam em um bosque, e eu –
Eu escolhi a menos percorrida,
e isto fez toda a diferença.
Robert Frost - 1915
Ps. Eu escolhi a menos percorrida, e isso realmente faz toda a diferença.
Postado por Letícia Christmann

O terno e a Flor

em terça-feira, março 08, 2011
(Jú Souza)

Sem querer, notei a minha voz um tom desafinada,
E percebi que meses haviam passado,
Desde aquela noite em que te conheci...

Ainda me lembro, o meu terninho fino, e seu vestido liso,
Estampas e encantos nesse seu vestido,
Me convidou num passo para o paraíso

Não sei por que, os cheiros destas flores que tu me ofertou,
Não sei qual é o cheiro, mas me lembra amor,
Aquele sentimento em que reconheci,quando era chegada à quarta feira de cinzas,

E minha flor, o meu amor daqui nada mudou.
Apenas o inverno por aqui passou...
E enxugou com ele a lagrima corrida, talvez o vento frio encubra a ferida,
Ou leve pros teus braços este coração...


E o teu chitão, não toca mais o meu...
Não toca mais o meu, e o meu terninho de cetim?
Juntou-se as flores do jardim, e se puseram a esperar o carnaval.
E não a nada igual, nada igual,
Como aquele em que passei ao seu ladinho...


Postado por Karol Coelho
Esse texto é do meu quase colega de profissão,
agora estudante de Rádio e Tv, José Roberto Júnior.
Ele tem um coração bom!
Abraço, Zé!

AMOR

em sexta-feira, março 04, 2011
Amor é o sorriso espontâneo e pode ser os olhos fechados no silêncio de um beijo inesperado.
É o abraço apertado dado no encontro tão aguardado e é a saudade do que ainda não se foi, do que ainda não chegou ou do que um dia perpetuou na alma.
É sim, o olhar da criança que te sorri na hora da tristeza e o pedido de colo na hora da angústia.
Amor é música que faz seu coração bater mais forte ou faz seu espírito levitar. É aquela que toca na hora certa e que consegue dizer tudo o que queria.
Amor é silêncio. É barulho de mar. É onda. É o levantar da queda.
Amor não é máquina. Não é hora marcada, nem bomba relógio. Não é amanhã, é hoje e pode ser o sempre. É a esperança.
Amor é poesia em carta de amor perfumada. É canção brega. Parece bobagem, mas nunca é.
Não é ciúmes, mas também não é mão aberta. É cuidado, abrigo, consolo, é amizade, às vezes tem até um choro, mas sempre termina na alegria.
Amor é mãos dadas, mesmo em caminhos diferentes, e muitas vezes é um caminho só. É um destino.
O amor é e "une perfeitamente todas as coisas". É filme, é arte, é dom, é simplicidade. O amor sempre tem tudo, mesmo possuindo nada.
Karol Coelho

Verbalize em atos

em quinta-feira, março 03, 2011
Ame
Simplesmente
Puramente
Loucamente
Sutilmente

Despretensiosamente
Deseje
Despeje
Corteje
Almeje

Apaixonadamente
Enfeitice
Enfeite
Energize
Descontrole-se

Encorajadamente
Avance
Fantasie
Realize
Termine

Elegantemente
Mantenha-se
Ou caia em si
Encontre-se
Desarranje-se

Karol Coelho
 
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