Mais um pouco...

em terça-feira, outubro 19, 2010
Não era possível, as coisas tinham que estar acontecendo por algum motivo. Os fatos repetidos, as dores repetidas. Algo tinha que estar errado, ou muito certo na vida dela.
Sentou-se naquele banco circular (bem podia ser um balanço!) e pôs-se a pensar como as coisas estavam acontecendo, e porquê. As decisões tinham que partir dela. Mas acreditava que alguém estava brincando de traçar o destino dela, uma brincadeira bem sem graça, por sinal.
As coisas estavam certas, tinham que estar. Não havia muitas opções além. A vida não é brincadeira. E é muito curta pra fazer todas as coisas que queria fazer.
Entendeu a dor dele, sentia a mesma dor em si, de novo e de novo. O verdadeiro problema é que sempre ela que ficava com as lembranças, com as cartas, os bichinhos de pelúcia, as fotos, o cheiro, os momentos a dois, o relance o espelho, o mesmo lugar no banco, na sala, na vida. Ela que era obrigada a lembrar todos os instantes, todos os momentos. E sentir a dor se agudar, de novo e de novo.
Era assim, seguia assim. Uma dor ali, uma cicatriz aqui, uma lágrima acolá.
Viver é isso. Esse dorme e acorda. Sentir e não sentir. Querer e não acreditar. Decidir e ter que aceitar.
O melhor de tudo: mais um cheiro, mais um sorriso, mais um olhar, mais uma briga, mais uma vontade de abraçar em seu ser. Por fim, mais uma saudade.

"A Estrada em frente vai seguindo
Deixando a porta onde começa.
Agora longe já vai indo,
Devo seguir, nada me impeça;
Em seu encalço vão meus pés,
Até a junção com a grande estrada,
De muitas sendas através.
Que vem depois? Não sei mais nada."
J. R. R. Tolkien
Letícia Christmann

Um dia de aventura.

em quarta-feira, outubro 13, 2010
A menina, que até então tinha medo, se mantém segura, esquecendo-se de tudo por apenas um carinho. O desejo é declarado ao pegar em sua mão.
Assim permanece o dia. Só na aventura do desejo insaciado, do olhar entregado, do sorriso discreto perdido na brincadeira.
É hora de ir, mas mesmo com o tempo avançado, vem a desculpa para dar uma escapada. Era a hora, só podia ser essa a hora. O tempo criado para arriscarem seus corações, colocando-os em um poço de saudade dado pelo beijo que fizera da espera de uma tarde juntos, se transformar em nada perto da distância que agora têm que enfrentar.

Karol Coelho

O quadrado dos catetos

em quinta-feira, outubro 07, 2010
Nivaldo Pereira
Crônica publicada no jornal Pioneiro, 23/07/2010

A soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Hipotenusa? Como é mesmo o nome daquela loura que cantou doidona o hino nacional? Não é bem Hipotenusa, mas algo assim. O povo riu e criticou, mas aquele hino nacional na versão da tal Hipotenusa é a cara da relação de muitos políticos com o Brasil. Hum, isso pode ser tema da redação.
Memorize, memorize... A soma do quadrado dos catetos... Cateto não é um tipo de arroz? Arroz quadrado? Só se for daqueles italianos, para risoto. Como será que fazem para o grão ficar assim, cortadinho? Deve ser algum truque transgênico. Opa, esse lance transgênico pode ser tema da redação. Os naturebas não querem nem saber disso. Ah, mas eles comem aquele arroz integral grudado... Gente estranha!
Vamos lá, teorema de Pitágoras. Grego tem cada nome esquisito e enorme! É Anaximandro, Parmênides, Eurípedes, Aristóteles, Arquimedes. O tal Platão, apesar de terminar em ão, deve ser um diminutivo. Platão! Parece o Cebolinha pedindo um prato grande: quelo um platão. Um platão de lisoto de aloz cateto...
Arre! De novo: em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa... Pera lá! Se é triângulo, como pode ser retângulo? Isso eu sei muito bem a diferença. Um tem três lados, o outro tem quatro. Cadê a lógica? Depois querem que a gente aprenda matemática. Os caras viajam! Devem tomar as mesmas boletas da dona Hipotenusa... Esse teorema de Pitágoras devia se chamar teorema LSD. Ou teorema do Chapeleiro Maluco. Um triângulo que é retângulo? Deu nó aqui, deu nó...
Melhor pegar um pouco de biologia. A célula é a unidade funcional dos seres vivos. Núcleo, citoplasma, mitocôndria... Ah, tinham que esculhambar. Mitocôndria deve ser nome de grega. Dona Mitocôndria, mulher de seu Alcebíades... Complexo de Golgi! Sim, tadinha, traumatizada com o nome horrível, dona Mitocôndria sofria com o Complexo de Golgi! Ui, com essa, escorreguei no vacúolo, caí no zigoto!
Cadê as outras apostilas? Química. Física. Literatura. Geografia. É melhor dar um tempo. Ser inteligente agora é descobrir onde a mãe escondeu meus patins.

*Conheça o blog do Nivaldo Pereira clicando aqui.

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Já disse por aqui o quanto admiro o Nivaldo, não é?
Pois aí está mais uma crônica genial dele.
Espero que gostem.
E me desculpem pela ausência aqui no Pensamentos Devaneantes.
Sem promessas, mas espero que eu volte a postar frequentemente, como antes.



Postado por Erica Ferro


O mesmo de sempre

em terça-feira, outubro 05, 2010
Não entendia como o mundo poderia dar tantas voltas. Uma hora tão feliz, outra tão perdida e, por fim, triste, muito triste.
As coisas se acertam quando não deveriam se acertar. As coisas erradas parecem mais certas nesse mundo sem amor. Ou com amor demais, que de tanto não caber em si, acaba fugindo.
Não entendia como poderia ter se ligado tanto à mais alguém. Mais um alguém que se vai assim, sem mais nem menos. Amar, acompanhar, ter alguém... São coisas da cultura ocidental, que não faz muito sentido quando começa a estudar o surgimento. Mas ainda assim, se fazem necessárias para quem sempre esteve inserida nela.
Tinha medo de muita coisa, mas lembrava que o ter medo era relativo.
Aquelas sensações esquisitas haviam parado há algum tempo. E agora voltavam.
O mesmo aperto no peito de saudade.
A mesma vontade de ver, abraçar e não sair de perto.
A mesma disponibilidade de amar, e ser correspondida.
Nada estava dando muito certo.
Mas afinal, o que deveria dar?
Via tudo errado à sua volta.
E não parecia que as coisas iam se acertar.
Tudo, por fim, continuava errado igual sempre.

"Um dia desses, num desses encontros casuais...
Talvez a gente a se encontre, talvez a gente encontre explicação..."
(Engenheiros do Hawaii)
Letícia Christmann
 
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