Não me venha com meias palavras,

em segunda-feira, janeiro 30, 2012
Mesmo se vier com elas, seu olhar complementará, o jeito de me abraçar esclarecerá. Esse seu jeito de querer dizer muito, falando pouco, me encantou. Mas agora preciso saber mais, ouvir mais, entender mais. Você sabe que minha cabeça funciona a mil, e suas palavras não ditas, quase sempre, me deixam mergulhada numa confusão não necessária.
É estranho, seu jeito de olhar me prende, me olhando de cima abaixo sempre que tem oportunidade. O modo como pára a mão na minha perna quando dirige, e quando toma cuidado pra nada de errado acontecer. Seu jeito de sorrir quando faço algo bobo, de me abraçar, de fazer carinho. As mensagens de bom dia e de boa noite. A saudade, que aparece a cada tchau.
Não me venha com meias palavras.
Eu te amo.
E isso não se diz com meias palavras.


Letícia Christmann

Pingos d'água

em sexta-feira, janeiro 27, 2012
Chuvisco com cheiro de chá
Chaveiro da minha paixão
Cachaça não evita chôro
Achei minha chave no chão

O cheiro da chuva chamou
Aconcheguei-me no meu colchão
A chuva encharcou meu sono
Cheguei a sonhar de coração

Karol Coelho

Porque cantamos

em terça-feira, janeiro 10, 2012
(Mario Benedetti)


Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel


você perguntará por que cantamos


se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha


você perguntará por que cantamos


se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro


você perguntará por que cantamos


cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino


cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos


cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota


cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta


cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.


                 2011                                           1970

Ps. Este é em homenagem aos últimos acontecimentos na Usp.
Postado por Letícia Christmann

Tempo vem, tempo vai

em sexta-feira, janeiro 06, 2012
Revesam, sem parar, as estações
Cai chuva, levanta gente
Queima sol, água'rdente
Noite escura, lua fria
Nua como sempre,
branca como nunca,
Cheia como às vezes
Rege o mar, quebra onda
Alaga vidas
Esvazia nuvens
Limpa o céu
Sopra o vento
Nova semente
Cresce e desabrocha
Minguante, apaga

Karol Coelho
 
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