Sentia um nó na boca do estômago, um calafrio na espinha e uma necessidade incessante de respirar fundo - como se pra comprovar que ainda estava viva.
Não conseguia encontrar uma posição pra dormir, 3, 4, 5 da manhã e nada. Os pensamentos davam loopings em uma balança do que havia acontecido até aquela noite e o que ainda estava por vir, entrecortados por uma imaginação fértil que começava a desenhar coisas onde não havia nada, alucinações?
Sentou-se, abriu o notebook e resolver escrever, para ver se aquela sensação passava.
Lá fora, a escuridão iluminada apenas pela lua e pelas estrelas, o som pausado do murmurar dos grilos, e o sussurrar de um vento fraquinho que vibrava aqui e ali. Lá longe, o uivar de um cachorro, talvez se sentindo tão solitário quanto ela. Um carro ou uma moto passava vez ou outra.
Era, mais uma vez, o início de uma mudança que não sabia onde poderia desembocar. O não saber pra onde ir, o que fazer, onde se enfiar.
Sabia que não era a única insegura. Já no seu ciclo de amigos os sintomas eram claros e assustadores, agudos.
Sentiu os olhos encherem-se de lágrimas, sufocados em um choro que ela estava terminantemente decidida que não iria acontecer. Não iria fraquejar, não no meio da madrugada e sozinha para sentir-se ainda mais só.
Respirou fundo, enxugou as lágrimas não seguradas e se auto-diagnosticou: crise de ansiedade. Crise do quarto ano. Crise dos vinte e poucos. Crise do fim de um ciclo. Crise.
Letícia Christmann