Faz muito tempo que eu me pego pensando o que me trouxe até aqui. Talvez porque veja o fim de uma fase importante, próximo... E cada coisa que faço me faz pensar: "É, pode ser que seja a última vez que isso aconteça".
Eu tenho medo das mudanças. Me lembro do primeiro ano nessa cidade, e como tudo era mais difícil. Cada sorriso, cada amizade construída... Ai, hoje as coisas mudaram tanto! Novos sorrisos, novas amizades. Tenho a necessidade de acreditar que algumas, ainda que poucas, delas durarão mais anos. Ainda assim, tenho medo.
Medo que tudo isso não passe de uma fase, e que quando esta acabar, construir tudo de novo. Amores são eternos (são sim!) e agora alguns de meus amigos são meus amores. Penso em tudo que já vivi por aqui... A queda de bicicleta, os choros sem fim de saudade de casa, o amadurecimento que vem ao morar longe longe longe, desentupir caixa de gordura (ai, esse episódio foi nojentamente memorável), tomar banho de mangueira com 3 chuveiros queimados, o fim de semana sem geladeira, as roupas manchadas de sabão em pó, linda máquina de lavar, depois de um tempo com tanquinho, os novos amores, os amores antigos, as festas e bebedeiras, os bares de sexta feira de noite (com batata frita e queijo, por favor), as noites varadas antes das provas... Mas o mais impressionante é que, depois de todo esse tempo, em me sinto em casa.
Me sinto, realmente, onde deveria estar. Com amigos que consegui estar, aqueles que me apoiam, me fazem sentir bem.
Mas, há outro mundo que eu deixei para trás quando fiz a opção de estar aqui por inteiro. E esse mundo, eu também sinto falta. Minhas referências, meus amigos mais íntimos, aqueles que não me conhecem apenas por essa fase, mas por inteiro.
Me pego pensando que esta fase vai acabar, e não sei se infelizmente ou felizmente. Mas mesmo antes do seu fim, eu já sinto falta, saudade, vontade de voltar. Ai que confusão!
Essa divisão entre o que eu fui, o que eu sou... e o agora, o que vou ser?
Pois é, último ano de faculdade... Você está se aproximando, o desemprego batendo na porta, e a instabilidade reinante... O batuque nos pensamentos do: o que fazer agora? Voltar, ficar, tentar projetos... O que será, que será?
E, mais uma vez, são apenas pensamentos devaneantes... Mas, esse devaneio, ultimamente, está angustiante.
Letícia Christmann