O Novo Mundo

em domingo, março 20, 2011
A mudança das coisas se tornam imperceptíveis aos olhos. Pouco a pouco ela ia se transformando e, a partir dos pequenos detalhes, ela se tornava uma nova pessoa. Tinha uma mulher e uma menina guardada e que aparecia conforme convinha e, mesmo seu coração sendo bombardeado, ela se recuperava, como uma cidade arrasada é obrigada a renascer após a guerra. Porém, ia se endurecendo, e cada vez menos sentimentos adentravam a bolha que formou ao redor de si. Destruia e reconstruia, fazia tudo ao mesmo tempo, mas fazia questão de não fazer mais nada. Notícias do seu mundo antigo e dos seus amigos antigos chegavam cada vez com menos frequência. Lembranças, saudade, cumplicidade não conseguiam mais perfurar a bolha. Envelhecia, esquecia e não fazia mais questão de sentir. Idolatrava a solidão. Tinha um mundo novo pela frente, no qual levava o coração na mão e mostrava as cicatrizes, indiferente a elas, apenas para explicar porque tinha se tornado fria, insensível. Controlava tudo, sua mente, seus sentimentos e seu mundo. Uma estranha, no meio de estranhos. O mundo se reconstruia, e os indiferentes tornavam-se todos iguais. Cultura de massa, indiferença de massa. Todos, uma massa homogênea. E o mundo?! Uma grande farsa.

"O que acontece - suspirou - é que o mundo vai se acabando pouco a pouco e essas coisas já não vêm." - Úrsula explicando ao bisneto sobre a lâmpada dos desejos e tapetes voadores.
(Gabriel Garcia Marquez - Cem anos de solidão)

Letícia Christmann

2 comentários:

Rebeca Postigo disse...

O mundo tem perdido tanto...
Belo texto!!!

Bjs

Carlinha disse...

ótima postagem!! =D
é mesmo triste quando a indiferença começa a reinar!! =/

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