Eu ando irritada. Caminhos errados, escolhas estranhas. A ponta da faca parece mais próxima do meu peito, me impedindo de respirar fundo e olhar o horizonte (que seja!) aliviada. Entrelaço meus dedos na taça, um gole depois do outro. A cor do vinho me atrai. Talvez represente o mesmo tipo de atração que minha sobrinha sente pela beterraba, com seu gosto adocicado. Não sou mais criança. Me interesso pelo vinho, pela conversa, pelo olhar.
Eu ando irritada. Percebo que não consigo formular um pensamento completo, não consigo articular as palavras, não consigo saber o que estou sentindo. Confusão. Caos. Por todo o lado, coisas desconstruindo-se, e o desconstruído há muito, reconstruindo-se, mais firme, mais forte. Como diria Neruda, "é tão curto o amor, e tão longo o esquecimento".
Eu ando irritada. De vez em quando, me sinto uma estrangeira. De certo, sou uma. Sem reconhecer nada em volta, sem fazer questão de me sentir em casa em lugar nenhum. Não me sinto, não finjo. E não fujo, apesar de me sentir uma fugitiva.
Eu ando acuada. Não sei direito o que fazer e, ainda, aquela faca espeta meu peito mas eu, sinto muito, preciso respirar fundo, deixar o ar inundar meus pulmões e o coração acelerar. O sangue escorre, há uma marca agora no meu peito, o coração está ali pra quem quiser ver.
Eu, agora, estou resolvida: já sei, a vida é hoje, é agora. E é com ou sem você.
Letícia Christmann
2 comentários:
faz tempo que ando irritada também, espero que passe... beijo
Tão irritada que nao faz mais questao de usar terceira pessoa!! Como vc msm disse qdo eu andava irritada, sem me sentir em casa em lugar algum, e o coraçãozinho apertado "tudo se acerta" e um dia a gnt sabe que tudo se encaixa no seu devido lugar! Vc é uma guerreira, pois por mais que doa, vc ainda luta e nao tem medo de dizer "ta doendo"! Poucos tem coragem pra isso! Espero que saiba seu valor! te amo!
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