Poemeu - A superstição é imortal

em sábado, fevereiro 06, 2010
Quando eu era bem menino
Tinha fadas no jardim
No porão um monstro albino
E uma bruxa bem ruim.

Cada lâmpada tinha um gênio
Que virava ano em milênio
E, coisa bem mais perversa,
Sapo em rei e vice-versa.

Tinha Ciclope,Centauro,
Autósito, Hidra e megera,
Fênix, Grifo, Minotauro,
Magia, pasmo e quimera.

Mas aí surgiram no horizonte
Além de Custer e seus confederados
A tecnologia mastodonte
Com tecnologistas bem safados
Esses homens da ciência me provaram
Que duendes, bruxas e omacéfalos
Eram produtos imbecis de meu encéfalo.
Nunca existiram e nunca existirão:
uma decepção!

Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.

Millôr Fernandes



Isso, hoje, fala por mim.

Postado por Erica Ferro

5 comentários:

Rebeca Postigo disse...

Nossa imaginação é fabulosa...

Bjs

Nati Pereira disse...

Tuas escolhas são sempre ótimas. Beijo

Letícia disse...

(8)A minha TV tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá!

Jééh disse...

sim um belo texto
mas eu sinto saudade do tempo que
via minotauros, e tinha medo de bruxa/fato

Thai Nascimento disse...

Nunca tinha lido esse poema, amei!
É, parece que esse mundo cada vez mais científico, tenta forçar a gente a parar de sonhar, mas n dá mesmo...

Ps: políticos de duas cabeças é o que mais existe no Brasil ;)

 
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