— Não sei o que eles pretendem, nem quero saber. Estou velho para essas novidades. Em verdade já nasci velho, como você. A diferença é que você tem uma chance e eu não tenho.
— Que chance eu tenho?
— A de romper com seu passado. Abrir mão de tudo o que vem constituindo você: sua sinceridade, sua fidelidade a si mesmo. O que é a sua sinceridade? A sinceridade de quando você não sabia nadar ou de quando você se tornou campeão?
— Hoje não sou capaz de nadar mais de duzentos metros — sorriu ele.
— Pois nade esses duzentos metros. Não se detenha diante de nada. Comece enquanto é tempo, rompa com tudo e cora todos! Quero você capaz de mijar na minha sepultura.
— Que devo fazer? — perguntou ele, impressionado.
— Não blefe. Jogue todas as cartas na mesa. Não fuja. Não tenha medo de perder. Nada mais digno do que, tudo feito, depois que não se poupa nada, saber dizer: perdi. Porque essa é a grande verdade: perdemos sempre...
— Eu não nasci para perder.
— É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância — Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo
é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e Deus o ajudará.
(Trecho do livro O encontro marcado, Fernando Sabino)
Acabei de ler esse livro hoje. E o que achei? Maravilhoso! Me identifiquei muito com ele. Me fez crescer, me entender... Enfim, sabe aqueles livros que você tem como os melhores, aqueles que estão no rol dos favoritos e, de verdade, inesquecíveis? Pronto, ele é um desses.
O encontro marcado me marcou, verdadeiramente.
Outro dia venho falar melhor sobre ele.
Postado por Erica Ferro