Compor...

em quarta-feira, junho 30, 2010
O prédio ecoava vozes, lembranças, impressões, informações e sentimentos. As escadas se enroscavam num vai e volta e ninguém, realmente, sabia onde ia. Ali, tudo estava do avesso. Livros lidos cabiam dentro de uma garrafa pet, amontoados, empilhados e mesmo naquela desordem toda, organizados. A seção dos livros ficava no andar térreo (ou primeiro andar), os lidos numa garrafa pet e os não lidos em inúmeros e inumeros galões de água. Etiquetados.
No segundo andar, a sujeira de experimentos, sangue, lágrimas, desacordos, mentiras, trapaças e, o essencial, descobertas. Era o andar dos testes, das provas. Ali, tudo que era provado (ou desaprovado) deixava marcas. Parecia um coração em desritmia. A escada do primeiro para o segundo andar se mostrava torta, com o corrimão solto e, em muitas partes, haviam rastros de sangue.
Já a escada para o terceiro andar era mais limpa, clean, bonita, bem cuidada, o corrimão firme. Era, logo acima do teste, o andar dos pensamentos. Subindo ali, uma loucura. Para os mais íntimos e chegados, o andar da neblina. Ali tudo era confuso, misturado e meio devagar. Não se enxergava direito e não havia conflitos, apenas distanciamentos.
Para subir ao último andar, deveria se tomar o cuidado para não cair na escada. Parecia que se passava por um furacão para chegar até ali. Era o andar dos sentimentos, e apesar de tudo em grande parte ser uma calmaria, os mais intensos vaziam uma reviravolta sem igual quando queriam. Um andar tranquilo, sofrido, confuso. Informações invadiam pela janela e pela escada inexplicavelmente, e todos se mexiam, olhando a informação e dando impressões. Ali era puro ativismo.
Por fim, saiu do prédio. Conhecia-se por dentro agora. Aquilo que a compunha, como as coisas aconteciam e porque aconteciam. Tudo na sua devida ordem, no seu respectivo espaço, exigindo respeito. Era aquilo que precisava entender. A vida era compartimentos. E em cada um havia espaço para uma lembrança. Ela era uma acumulação de pequenas lembranças. E para tê-las, só o tempo era capaz de escolher. Afinal, o tempo era a estrutura do prédio.
Letícia Christmann

Pari uma dor

em domingo, junho 27, 2010
Leio, escuto, descubro histórias de pessoas que lutaram e sofreram pelos meus direitos. Que tiveram suas vidas destruídas por algo, por alguém. Que choraram mortes caras, de alto preço. Que sorriram vitórias sofridas.
Hoje conheço pessoas, começando por meus pais, que para ter seus sonhos realizados perderam noites de sono, caminharam sobre pedras, dormiram no chão ou embalados numa rede. Vejo pessoas que venceram, conquistaram algo. Vejo pessoas que vencem e conquintam coisas.
Tive e tenho professores que desde cedo buscaram algo, passaram por coisas e um deles já jogou em minha cara o quanto é fácil pra mim estar sentada onde estou. Pois é!
Qual o papel da minha juventude? Ficar sentada achando que não tenho o que buscar? Ou achando que tudo é muito difícil desfrutando das conquistas do sofrimento alheio?
Pari uma dor: a de me sentir incapaz de ser metade do que foram meus pais, que vieram do sertão do meu país, saíram de casa cedo, dormiram com fome em colchão de famílias mesquinhas, que aprenderam com os mais velhos sábios, que se entregaram ao amor sem carro, sem trabalho, sem casa, sem dinheiro e hoje têm dois filhos com cara de filhinhos de papai que moram na periferia por querer que eles tivessem tudo o que não tiveram.
Essa dor não foi difícil parir. Bastou-me reconhecer o quanto estou entregue ao conforto do suor de terceiros. Agora, quero assassinar essa dor.
O blues que escuto, o voto que tenho direito, a cama em que durmo, a comida que como... nada disso eu mereço. Pois, não senti metade da dor de quem os fez sentiu.
Não é que eu deva sofrer. Não! Não é isso que penso. Mas eu preciso dar sentido à minha história. Deixar de me acomodar no trabalho dos outros. Devo fazer meu próprio trabalho, minhas próprias conquistas, mesmo não me sentindo a mais capaz. Porque agora, mais do que nunca, devo ver pra crer que posso ser algo, e pra ver devo fazer alguma coisa. Quero a força de vontade da juventude dos meus pais. Por enquanto, sou nada.
Karol Coelho
O Desabafo!
em quarta-feira, junho 23, 2010
Hey, menino bonito!
É, você mesmo!
Que sorriso mais bonito!
Que olhar mais divertido!
Que coração mais feliz!
-
Hey, menino bonito!
Que andar mais descontraído!
Que gestos mais carinhosos!
Que palvaras mais bem cuidadas!
Que beijo mais bom!
-
Hey, menino bonito!
Quero que tome cuidado comigo!
Eu tenho um coração bem machucado!
E ele não quer mais cicatrizes!
-
Hey, menino bonito!
Prometa amor eterno!
Prometa cuidado pra sempre!
Prometa esse sorriso sempre bonito!
-
E, hey menino bonito!
Prometa sempre ser lindo por dentro!
Prometa sempre me tratar com carinho!
Prometa...
-
Hey, menino bonito!
Prometa que eu sempre vou poder te olhar...
E ver esse menino bonito que eu conheci agora!
Letícia Christmann

É como fome

em domingo, junho 20, 2010
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

Clarice Lispector

Karol Coelho

No dia depois de amanhã

em sexta-feira, junho 18, 2010
No dia depois de amanhã...
Depois de amanhã, eu quero poder te amar, te abraçar, te olhar e te beijar.
Isso sem tempo nem espaço para nos barrar.
Quero contar uma história que nem eu mesma sei que fim que terá.
Ser eu, eu e você. Sermos um, sempre.
Eu quero deitar na grama e olhar as estrelas, te mostrar Órion, Escorpião.
No dia depois de amanhã, eu vou cuidar de você.
Corpo, alma e coração bem nutridos.
Eu quero, naquele dia já programado, andar de mãos dadas.
Porém, um gesto que não signifique apenas "eu estou contigo", mas "eu sou tua".
Depois de amanhã, seremos um.
Hoje, talvez, estamos no caminho, no embalo.
A conquista do coração.
Nada como um dia após o outro.
Porque, quando chegar o dia depois de amanhã, seremos um.
Mas, ainda, seremos um que faz parte do todo.
Porque, no dia depois de amanhã, eu serei tua. Só tua.
E você será meu, como sempre.
"Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor
Tua água eu vou buscar na fonte
teu passo eu já sei de cor
Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor...
Nosso canto será o mais bonito
Mi Fá Sol Lápis de cor
Nossa pausa será o nosso grito que a natureza mostrou
A gente é tão pequeno, gigante no coração
Quando a noite traz sereno a gente dorme num só colchão..."
(Menina - O Teatro Mágico)

Letícia Christmann

Sorriu

em quinta-feira, junho 17, 2010

Hoje a lua sorriu parecendo não se importar com o frio. E quando a vi me parece que também não o senti. Caminhei olhando pra ela e não tropecei - e quem me conhece sabe que vivo aos tropeços.

Não me importou o caminho, não adiantou-me as pedras, porque a lua sorriu. Você viu? "Na pressa a gente nem nota que a lua muda de formato". A gente apenas caminha, esquecendo que o que mais vale não é o destino e sim por onde a gente anda e o que a gente encontra. Eu encontrei a lua sorrindo. E pensei: também devo sorrir.


(Karol Coelho)

Sem frio

em segunda-feira, junho 14, 2010
Nem ao menos sentirei frio esta noite, pois o calor da tua pele aquece meu corpo.
Ainda sinto tuas mãos em mim... cada toque... e em meu corpo estão suas digitais.
Sem medo confesso: passaria uma noite inteira ao seu lado e não me importaria ao permanecer acordada;
Até porque, não desperdiçaria um minuto se quer nos seus braços.
(Karol Coelho)

Os versos mais tristes...

em
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

Ps. Precisa dizer mais alguma coisa?

Postado por Letícia Christmann

Ao amor que virá

em sábado, junho 12, 2010
"Quero envolver minha mão na tua, recostar minha cabeça levemente em teu peito, fechar os olhos, sentir a tua respiração calma junto a mim e pensar que o mundo poderia ser eternamente assim: eu e você, com as mãos entrelaçadas e nossos corpos unidos por um abraço acalentador..."
Erica Ferro



The Beatles - I Wanna Hold Your Hand

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*Um viva ao amor sincero,
um viva aos casais apaixonados,
um viva aos casais que ainda vão se formar,
pois o amor... ah, o amor sempre vem para
quem o quer e, quando ele chega, sabe cuidar,
cultivar e o faz florecer.

Feliz dia dos namorados!

Amor e ódio

em sexta-feira, junho 11, 2010
Essa raiva que eu sinto de você tem nome: amor castigado. Você me castigou com esses teus olhos, com essas tuas mãos, essa tua boca, essa tua voz, essa coisa linda que é você por inteiro. E é por isso que eu tenho tanta raiva! Raiva de você. Ou será de mim? Não, de você não pode ser, porque eu te quero bem, muito bem; quero você a salvo de todo o mal do mundo. Eu tenho raiva de mim porque eu não sou o que você espera de um alguém para amar. Eu não deveria, eu sei; é loucura ter raiva de si por essas razões, e é fraqueza também. Mas gente apaixonada não raciocina direito; age por impulso, fala loucuras achando que está no auge da sua razão.
Sei lá, amor meu, só meu... Eu não sei mais o que fazer para te arrancar daqui do coração e da mente. Isso tudo é tão idiota, tão clichê, tão comum a pessoas extremamente abobalhadas em razão disso, de paixão, que eu tenho vergonha de tudo isso que eu escrevo agora. Tenho vergonha que você leia e me diga que eu sou uma boba, que você não acha graça nisso tudo que eu sinto e, desenvergonhadamente, demonstro.
Outro erro meu: demonstrar sempre, sempre mesmo, o que eu sinto. Eu deveria esconder certas coisas, certos sentimentos por serem tão delicados, tão meus, mas eu não consigo. Eu tenho uma mania besta de externar tudo, absolutamente tudo o que eu sinto, e eu sempre me prejudico por causa disso. Ah, meu amor, me perdoe por te amar, me perdoe por eu, eu, eu... eu te amar. Isso é pecado. Uma pessoa assim, tão desinteressante como eu, te amar loucamente, ardemente e com uma certa esperança tímida no canto do coração. Você é tudo que eu sempre quis, mas é muito pra mim. Não nasci para ter tanto na vida...

(Erica Ferro)

O Encontro

em terça-feira, junho 08, 2010
Ele sorriu quando a viu.
Se abraçaram, ficaram um tempo em silêncio, sem se mexer, sem se soltar, apenas a se abraçar.
Ela fechou os olhos quando sentiu novamente o cheiro dele.
Se olharam, não havia muito o que falar, eles se entendiam pelo olhar.
Ele segurou as mãos dela. Era seu sinal, tudo estava bem.
Ficaram de mãos dadas, sem desviar os olhos um do outro, nada no mundo parecia importar.
Ela entendeu o que ele queria dizer com os gestos, eles nunca precisaram mais que isso. Baixou os olhos e observou os dedos entrelaçados, não merecia toda aquela compreensão, aquela amizade, aquele carinho.
O amor estava no ar, e ambos queriam que aquele momento nunca acabasse.
Ele a abraçou novamente, afagou o cabelo dela, deixou-a suspirar e ouviu seus pedidos de desculpas.
Não soltaram mais aquele abraço.
Ela soluçava, chorava baixinho, tremia com o frio daquela noite.
Por fim, o reencontro. Foi assim:
Ele limpou as lágrimas dela e sussurrou:
"Está tudo bem, eu entendo você. E eu amo você, como sempre, mais que antes."
Ela podia amá-lo agora, amá-lo pelo que era, pelo que fazia. Pelo sorriso, pelo rosto sério e também pelas risadas naquele dia mais tarde, no bar.
Finalmente, tudo estava bem.
Ela se sentia bem.
Ele podia amá-la.
No encontro dos corações poderia sair até faíscas.
Naquele momento, o mundo podia parar de girar.

Letícia Christmann

sou poeta, minto

em sábado, junho 05, 2010
escrever é eternizar memórias
inventar histórias
mentir futuros
iludir o mundo

poetizar é tocar
é penetrar almas
é enlouquecer amantes
é brincar de rimar
é ser desconexo
é se conectar a intensidade
é enlouquecer de verdade

eu sou uma pseudo-escritora
uma pseudo-poetisa
um gracejo do existir
um amor sem culpa
uma culpa sem perdão

eu sou o existir
eu sou a negação
a revelação
a loucura dos dias
o descanso das noites

eu sou tudo
eu não sou nada
e serei tudo
porque eu sou licenciada
eu sou poeta
e minto

(Erica Ferro)

* * *

Depois de anos, apareço. Desculpem-me a ausência.
Voltei a enlouquecer, viram? A prova viva que ando mais devaneada do que nunca é esse post todo louco, todo mentiroso e desconexo. E eu nem peço desculpas.
Afinal, esse blog é lugar de doido, doido que esconde as maiores verdades debaixo da língua. A loucura e a sabedoria andam juntas, juntíssimas.
Até breve!

Eu espero

em sexta-feira, junho 04, 2010
Há tempo pra tudo e eu espero.
Espero tocar na rádio a minha música preferida.
Espero acordar cedo em um dia de sol e não me sentir cansada.
Ou dormir até meio dia depois de semanas trabalhando duro (de preferência em dia de chuva).
Espero passar o inverno, chegar a primavera e ir pra um sítio no verão.
Espero cair as folhas de outono.
Espero tocar o telefone numa noite de sábado em que não tenho o que fazer.
Ou fico esperando alguém atender do outro lado da linha.
E nas férias, aguardo dividir meu quarto com minha melhor amiga.
Espero uma inspiração do nada ou então, expiro algo de mim.
Espero não perder a oportunidade da vida (que vida?).
E derramar as lágrimas (minhas lágrimas).
E provocar o riso (o seu riso).
(E o tempo que for preciso) Espero estar contigo.


Karol Coelho

Cadê as lágrimas?

em quinta-feira, junho 03, 2010
Lágrimas, são necessárias para lavar a alma, já disseram alguns poetas. "Diminuem a profundidade da dor", disse Shakespeare. E escorrem pelo rosto nas extremidades dos sentimentos.
Quem não lava a alma, quer manter o coração inteiro, mas o quebra com maior frequência. Não quer molhar o rosto com sal, não quer mostrar o que sente.
Eu, porém, confesso: quero me lavar. Quero lágrimas desesperadamente com amor. Quero molhar meu travesseiro a noite. Quero ir ao extremo dos sentimentos mais belos. Aliás, tenho tido dificuldade. Os sentimentos me parecem fugir. E as lágrimas, fazem questão de ficar dentro de mim.
Com isso, tenho até dificuldade para prolongar minhas palavras aqui.



Karol Coelho
Me perdoem a falta de tempo, de sentimentos e de palavras.
 
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