"Dizem que a vida é feita de escolhas. Que cada escolha traz uma consequência, ou uma série de consequências únicas, que nenhuma outra escolha traria. As pessoas dizem muitas coisas. Tantas coisas que elas não param para pensar nelas. Nas coisas e em si próprias. Elas falam. E falam. Podem até ter sentido, mas ele estará apenas na frase, e não na pessoa que diz, na intenção da pessoa que diz ou mesmo na razão da pessoa dizer.Dizem, falam, comentam. Bobagem. O mundo precisa é de gente muda. De gente cega. De gente surda. O mundo precisa de dias no escuro, noites de sol. As pessoas merecem chuvas que não molham, raios de Sol que não aquecem, árvores que não fazem sombra e abraços que não acalmam. Precisam parar de falar, de ver, de ouvir. E até de sentir. Precisam parar com tudo o que possa lhes ser razão aparente para reclamação, para palavras sem sentido, para vidas sem fundamento.
Vidas que não seriam vidas se não existissem padrões. Tendências. Passado a ser seguido, parâmetros e metas a serem cumpridas. Vidas e mais vidas desperdiçadas pelo simples pensamento de continuidade. De manutenção, de conservadorismo. Vidas e mais vidas não vividas por uma insistência teimosa no que não faz sentido nem em raciocínios insanos. Tempo mal usado, desperdiçado de fato, com memórias e planos egoístas que atrapalham "apenas" algumas poucas vidas que precisariam muito menos do que a mera ausência desse egoísmo traria e daria.
As pessoas reclamam da vida. Reclamam do time que perdeu, do calor, da chuva, do vento que estraga o cabelo, do céu que não está azul o suficiente ou mesmo do lindo azul(qualquer que seja o tom) do céu. Acham que a vida deveria ser perfeita. Com momentos perfeitos todos os dias, ou ainda, todas as horas. Com histórias e livros impecáveis. Apenas com bons momentos. Reclamam que não aprendem, que não tem oportunidades. Reclamam e xingam os momentos de tristeza, a dor, as lágrimas.
As pessoas esquecem os sonhos, esquecem a sinceridade em gestos, palavras e sentimentos. Esquecem dos sorrisos, dos olhares, dos abraços e dos beijos. Esquecem daquilo que lhes fez bem. Esquecem. Como um devedor esquece de pagar. Mas lembram cada detalhe do dia triste, cada nuvem no céu nublado, cada grão de areia na grama, cada vírgula colocada no lugar errado. Esquecem e lembram. Ou acham que fazem isso. Lembram de reclamar da vida, mas esquecem que a vida não é perfeita, que ela não pode ser perfeita. Que ela não precisa ser perfeita. Que os sonhos não precisam ser realizados de maneira perfeita. E esquecem, que a sinceridade naquilo que recebem e doam é mais importante do que qualquer frase perfeita escrita no livro de suas vidas.
Por isso acho que o mundo precisa de cegos, para que o céu, o sol e todas as maravilhas da natureza sejam mais valorizadas. Precisa de mais surdos, para que a palavra sincera, a declaração de amor, o desabafo amigo e todas os gritos da alma sejam mais valorizados. Precisa de mais mudos, para que a conversa seja valorizada, para que as oportunidades não sejam desperdiçadas e para que a música não seja mais banalizada.
As pessoas dizem muitas coisas. Dizem que valorizam algo só quando perdem-no. Dizem que valorizam uma pessoa só quando estão longe dela, ou a perdem para sempre. Dizem que só há verdadeira valorização num sentimento, ou mesmo num gesto que o prove, quando não o tem mais a qualquer momento.
As pessoas dizem sem saber. Ouvem sem querer. Vêem por obrigação. Pensam sem razão. E vivem, ou fingem que vivem, sem sentimento, sem coração.
*como a maioria dos meus últimos textos, esse vem de um lugar escuro
e escondido, que ainda não consegui dizer se está na cabeça ou no coração.
A solidão, a tristeza, a decepção
e a simples lembrança de tudo aquilo que me faz bem
se misturam nessas palavras."
(Vini Manfio)
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Preciso dizer algo mais depois desse texto espetacular do Vini? Não, não é? Foi o que imaginei. Conheci os escritos do Vini através do Lar dos Escrivólatras - um blog coletivo. Passei a gostar da maneira que ele escreve e do modo que ele vê as coisas. Enfim, virei "fã", digamos assim. Ontem, visitando alguns blog, chego até o Blog do maluco, que é o blog do Vini. De maluco ele não tem nada, hein? (haha!) Bem, é isso. Acho que vocês adorarão esse texto como eu adorei e achei de uma inteligência e sensibilidade fantástica.
Postado por Erica Ferro