Pari uma dor

em domingo, junho 27, 2010
Leio, escuto, descubro histórias de pessoas que lutaram e sofreram pelos meus direitos. Que tiveram suas vidas destruídas por algo, por alguém. Que choraram mortes caras, de alto preço. Que sorriram vitórias sofridas.
Hoje conheço pessoas, começando por meus pais, que para ter seus sonhos realizados perderam noites de sono, caminharam sobre pedras, dormiram no chão ou embalados numa rede. Vejo pessoas que venceram, conquistaram algo. Vejo pessoas que vencem e conquintam coisas.
Tive e tenho professores que desde cedo buscaram algo, passaram por coisas e um deles já jogou em minha cara o quanto é fácil pra mim estar sentada onde estou. Pois é!
Qual o papel da minha juventude? Ficar sentada achando que não tenho o que buscar? Ou achando que tudo é muito difícil desfrutando das conquistas do sofrimento alheio?
Pari uma dor: a de me sentir incapaz de ser metade do que foram meus pais, que vieram do sertão do meu país, saíram de casa cedo, dormiram com fome em colchão de famílias mesquinhas, que aprenderam com os mais velhos sábios, que se entregaram ao amor sem carro, sem trabalho, sem casa, sem dinheiro e hoje têm dois filhos com cara de filhinhos de papai que moram na periferia por querer que eles tivessem tudo o que não tiveram.
Essa dor não foi difícil parir. Bastou-me reconhecer o quanto estou entregue ao conforto do suor de terceiros. Agora, quero assassinar essa dor.
O blues que escuto, o voto que tenho direito, a cama em que durmo, a comida que como... nada disso eu mereço. Pois, não senti metade da dor de quem os fez sentiu.
Não é que eu deva sofrer. Não! Não é isso que penso. Mas eu preciso dar sentido à minha história. Deixar de me acomodar no trabalho dos outros. Devo fazer meu próprio trabalho, minhas próprias conquistas, mesmo não me sentindo a mais capaz. Porque agora, mais do que nunca, devo ver pra crer que posso ser algo, e pra ver devo fazer alguma coisa. Quero a força de vontade da juventude dos meus pais. Por enquanto, sou nada.
Karol Coelho
O Desabafo!

2 comentários:

Kenny Rogers disse...

Após ler tudo isso, meu peito se enche de orgulho, posso dizer que é um dos textos mais lindos que vc já colocou aqui, me reconheço em quase todas as palavras que vc escreveu, e hoje busco fazer minha parte pelo meu povo. Karol como eu sempre lhe disse vc pode ganhar o mundão, karol vc é capaz de tudo menina é só descobrir a força que vc tem.
Bjos eternamente seu fã

Érica Ferro disse...

Por enquanto, és nada, mas em breve serás muito mais do que imaginou um dia ser. O que verdadeiramente importa é ter o espírito de querer sempre mais, sempre melhorar, melhorar o meio em que vive, jamais se acomodar ao que ocorre ao nosso redor.

Adiante, jovem!

 
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