Ela é temida. Mas até agora não entendi bem o porquê, se nada se sabe mesmo dela. Então como podemos temer tanto uma coisa que nem sequer conhecemos?
O que dizem é que ela é a última coisa que nos acontece.
Ela tem várias faces: a surpreendente, rápida e fatal; a torturante, demorada e fatal. De todo modo ela é fatal. Não tem como escapar, se esconder, enganá-la.
Não sei quando a conhecerei. Não sei qual face ela irá me mostrar.
Tenho medo, confesso. Mas também tenho curiosidade. Mas é uma curiosidade calma, paciente. Não faço questão de conhece-la hoje, agora. Até porque eu gosto bastante da sua maior rival - Vida. Diria até que eu a amo. A Vida acha que não, que é pura conversa fiada. Diz que eu não dou o devido valor à ela. Sei que tenho feito pouco para honrá-la, aproveitá-la. Ela pede que eu a conheça mais, sempre mais. Disse que tem uma infinidade de coisas pra me mostrar, pra me ensinar, pra eu desfrutar. Já disse que quero, mas é um querer sem ação, um querer preguiçoso. E a rival da Vida ri muito de mim por isso. Me chama de covarde. Diz que não terá muito trabalho comigo, pois que eu, aos poucos, a cada dia, já estou fazendo o trabalho dela. E o medo de não ser, de não ter, de não conquistar, de me machucar, de me estraçalhar, é o que me mata um pouco a cada dia.
E, um dia, finalmente, ela vem risonha e diz: Cheguei.
Mas não, definitivamente não. Não vou deixar que ela venha e me encontre caída e derrotada. Vou me jogar nos braços da Vida. Sim, vou colocar esse meu medo numa água fervente e deixarei ele evaporar no ar. E um ar puro, o ar do campo, vou respirar. Vou sentir o cheiro das flores, sentir suas pétalas macias. Mas, claro, terei cuidado com os espinhos. Se me ferir, não vou deixar de ter encanto pelas flores. Não mesmo. Vou curar as feridas e continuar andando pelos caminhos da Vida.
A Morte será a conclusão de uma vida realmente vivida. Uma vida que teve gosto, mesmo em meio a desgostos. Pois quando se conhece o desgosto, se aprecia bem mais o gosto gostoso.
Vida, me espera. Estou indo com fome de ti, com uma voracidade que você nunca viu em mim.
(Erica Ferro)
2 comentários:
Quase todo mundo tem medo do desconhecido, Erica. Talvez não de algo que você não conheça, mas não afete na sua vida. A morte, por ser o contrário do viver, afeta de modo totalmente drástico. Você deixa de viver, e não sabe nem por quê. Não sabe se existe algo depois disso.
Como eu já tinha falado pra você, o jeito que você escreveu foge ao seu padrão, embora seja esse um estilo bonito de se ler, elegante e acessível. Acho que a temática quase que chama isso. A profundidade.
Esse recado final pra vida foi super legal, e "o gosto gostoso" me fez rir, sabe-se lá porquê.
Acho que a morte soltou um lamúrio ao perceber que perdeu mais um ser para a vida. :)
vc viveu sua vida? ou foi vivido por ela? escolheu-a? ou ela escolheu vc? amou-a? ou a lamentou? vc consumiu sua vida? vc a esgotou? (Niezsche)
muito bom o texto, gostei profundamente.
a morte. deixar de existir não será tão ruim assim, tbm nao sentíamos quando não existíamos(antes de nosso nascimento), então pq haveria de ser diferente?
só temos que nos jogar nos braços da vida, amá-la , enquanto temos consciência disso.
;*
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