Que a falta seja doce...

em sexta-feira, agosto 28, 2009
Uma tristeza profunda cresce em mim ao pensar que o agora, daqui a alguns segundos, será o passado.
E o passado é coisa de que não se tem poder: não podemos editar ou vivenciar novamente.
Passou, já foi, só se repetirá em nossos devaneios e em nossas lembranças.
Quantas vezes não me peguei pensando nos tempos infantis, onde era bem mais destemida e mais forte. Sim, talvez porque não conhecesse a brutalidade do mundo. Eu era mais destemida porque não tinha sido abordada por tantos medos como hoje tenho sido.
Ah, como era bom as brincadeiras de boneca... os risos acriançados, a inocência correndo nas veias, a fantasia de uma idade adulta feliz, casada com um homem bom e com muitos filhos.
Ah, como era tão mais doce sonhar quando era uma criança. Não tinha experimentado as frustrações do mundo. Hoje não consigo sonhar sem desacreditar por um momento que seja.
E sem fé é impossível conquistar algo.
Sinto falta dos cabelos negros do meu pai. Às vezes fico me perguntando: "Onde estão os cabelos escuros do meu pai?"
E o tempo responde: "Tem duas opções: você pode crer que eu os descolori - mal descoloridos, pois notam-se umas madeixas acizentadas -, ou que dei uma linda coloração branca com mechas cinzas."
Não sei qual escolher.
E minha mãe, cadê seu rosto jovial. Hoje nota-se rugas leves em seu rosto, ainda jovem, mas não tanto quanto anos atrás.
Sinto falta dos anos que foram guardados na mala chamada passado.
Meu irmão, então, cadê seu aspecto de recém-nascido? Parece que foi ontem que ele nasceu. Lembro como ontem, chegou pela primeira vez à sua casa com a face afogueada e faminto, chorava tanto. Hoje ainda chora, mas não com aquela intensidade e nem pelos mesmos motivos. Hoje ele fala e pode falar o que sente e o que quer. Hoje ele é um pequeno grande homem.
E eu, então, onde estão meus 6 anos?
Ficaram em 1996.
Hoje me vejo com 19 anos. Noto sinais de envelhecimento. Minha pele não é mais a mesma de anos atrás. É, o sol desgasta a pele, o tempo nos envelhece, mas também nos amadurece.
Hoje posso dizer que sou bem mais madura do que há tempos achei que já fosse.
Tudo o que vivi: momentos felizes e tristes, melodias harmoniosas e outras nem tanto, coração descompassado e passado para trás...- tudo isso é a base do que sou hoje.
Mesmo sabendo que tudo o que passou me faz ser o que hoje sou, dói não poder vivenciar novamente toda a vida que ontem foi vivida. É que às vezes queremos trazer o passado para o nosso presente. Mas o que é o nosso presente é o que temos nas mãos agora: o hoje.
O hoje é o nosso presente.
Portanto, aproveitemos o hoje para que amanhã possamos lembrar, com os olhos marejados de doces lágrimas, de nossos remotos momentos, mas sempre presentes, graças à máquina do tempo que são nossos pensamentos.

(Erica Ferro)

Um comentário:

Letícia disse...

O passado machuca mesmo... Mas quem não tem passado não tem história pra contar... Apesar que já disse várias vezes... Deveríamos ter um vira tempo!

 
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