A voz de Sofia ecoou na madrugada. Acordou subitamente, sentou na cama e se pôs a chorar. Tinha tido um horrível pesadelo, Pedro morria de falência múltipla de orgãos.
Pedro era um lindo menino de 12 anos. Cabelos encaracolados, alto para a sua idade, olhos negros, expressivos.
Olhos... ah, aqueles olhos que estavam fechados exatamente há duas semanas. Pedro tinha sofrido um acidente gravíssimo de carro. O impacto em sua cabeça foi muito grande. Só um milagre o salvaria. A maior parte da família de Pedro, tia e tios, primas e primos, avós e avôs, tinha perdido a esperança de que ele sobrevivesse, menos Sofia, sua mãe. Mesmo que todas as circunstância apontassem para o pior, ela acreditava que ele acordaria e saíria andando daquele hospital e teria muito mais anos para viver. Sofia achava deveras injusto Pedro morrer tão jovem. "Uma criança, meu Deus! Leve a mim, mas não à ele!" - Ela clamava.
E a madrugada estava fria, e o coração de Sofia estava apertado e tristonho. Seu marido, ao ouvir seus gritos, acordou e perguntou o que tinha acontecido, com o que tinha sonhado, por que estava chorando. Ela lhe contou, então, que tinha sonhado que o pior tinha acontecido ao filho deles. César, pai de Pedro e marido de Sofia, deixou rolar uma lágrima pelo seu olho, mas se manteve forte, mais para passar segurança para Sofia do que para qualquer outra coisa. Tranquilizou-a e disse que foi apenas um pesadelo horrível, que Pedro iria ficar bem, sim. Iria sair recuperado daquele hospital. Ela ligou para o hospital só para ter a certeza que Pedro permanecia da mesma maneira, em coma, se não tinha acontecido algo ainda pior. E para a tranquilidade de Sofia e César, ele estava vivo. Sofia se aconchegou nos braços de César e chorou cansadamente; acabou dormindo.
O sol raiou e o galo cantou, Sofia acorda apressadamente. Ia para o hospital. Aliás, ela achava que não deveria ter saído de lá. Como se pudesse evitar o que tivesse de acontecer.
Sofia se senta na cama meio zonza de sono e fraqueza, acorda César e se dirige ao banheiro. Toma um banho rápido, troca de roupa. Enquanto Sofia troca de roupa, César toma banho. Depois de colocarem uma roupa qualquer, saem apressadamente para o hospital.
Lá recebem a notícia de que Pedro se encontra no mesmo estado: coma profundo. Mas seus orgãos funcionavam ainda da melhor maneira possível. E isso era o que ainda enchia o coração de Sofia de esperanças.
Se aproximava das 10:00 da manhã, Sofia e César ainda não tinham se alimentado. Só pensavam em ficar olhando através da janela de vidro onde estava o seu filho.
Foi aí que algo terrível aconteceu, o coração de Pedro parou.
Sofia invade o quarto e começa a chorar e a gritar: "O sonho, César. O nosso filho, César... não deixe que ele morra! César coloca as mãos na cabeça e começa a chorar. Os médicos e enfermeiros correm em direção a Pedro, pedem que Sofia e César saiam de perto. Prestam os socorros necessários e, como um milagre, o coração de Pedro volta a pulsar. Sofia e César se abraçam fortemente e choram, um choro de tranquilidade, mas não de felicidade ainda. Pois Pedro ainda permanecia em coma.
Durante o resto dia, eles não conseguiram sair do hospital. Não queriam deixá-lo sozinho.
Resolveram dormir lá, o médico falou que de nada adiantaria eles ficarem ali, que precisavam descansar. Mas nada os deteve de ficar lá, firmes e irredutíveis.
Sofia e César se arranjaram numas cadeiras nada confortáveis, mas que, naquela altura, nem uma cama macia e agradável resolveria o desconforto e a dor que sentiam. Seu menino, Pedrinho, estava em coma!
05:00 da manhã, Sofia e César acordam com o médico os chamando.
Sofia pula da cadeira e diz impacientemente:
- O que houve com meu filho, doutor?! Diga logo, por favor!
- Calma, Sofia. Mas diga, doutor. Nosso filho piorou? Oh, meu Deus! - César falou mais impaciente e angustiado do que Sofia.
Calma, senhores. Eu fiz o possível pelo Pedro, para salvá-lo, mas sou uma criatura comum, só um médico. Não sou um super herói, Deus ou qualquer coisa que o valha. Mas, hoje, ah... hoje eu sei e não tenho mais dúvidas: há um Deus, milagres acontecem. Foi o que houve com Pedro, Pedro acordou...
- Oh, meu Deus! Meu Pedro, meu filho! Obrigada, Deus, obrigada... tu és maravilhoso, tu és verdadeiro, me devolveste meu filho! Oh, Pai, obrigada! Doutor, eu quero vê-lo. Preciso abraçá-lo. - Sofia disse euforicamente com as lágrimas rolando pelos olhos e um sorriso enorme estampado naquele rosto cansado de sofrer e chorar.
- Sofia, meu amor... Eu te disse! Te falei que daria tudo certo! Obrigada, meu Deus! Doutor, nos deixe vê-lo! - A voz de César era um misto de surpresa, alívio e alegria, muita alegria.
- Claro. Vocês poderão vê-lo, porém mais tarde. Ele está sendo cuidado e observado. Vão ser feito alguns exames para que nós identifiquemos se houve sequelas, o que é mais provável, levando em conta o nível de gravidade do acidente. Mas o pior já passou, acredito que não fique com sequelas graves, não tão graves. Acho que o pior já passou. Agora posso dizer que seu filho está vivo e que ficará bem.
Passaram alguns horas, que para Sofia e César foram uma eternidade e, então, poderam ver Pedro. Ainda estava fraco e falava pausadamente, Sofia o abraçou carinhosamente e disse:
- Meu filho, meu Pedro, eu nunca perdi as esperanças. Nunca! Aqui, dentro do meu coração, uma coisa me dizia que ia acabar tudo bem, que você acordaria desse coma e sorriria pra mim como você está fazendo agora. Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Eu te amo muito, muito, muito... Não suportaria viver sem você. Você sabia que o sol está mais brilhante e forte hoje? Pois saiba, meu amor. O sol está brilhante assim por você, por você ter acordado e voltado à vida. Ah, meu filho, hoje é o dia mais feliz da minha vida!
- Mamãe, eu te amo... - Disse Pedro ainda fraco.
- Meu filho, meu garoto... - César se aproximou dele. - Você não sabe a dor que foi passar esses dias sem ver o brilho teus olhos e ouvir a tua voz tão linda. Quem iria jogar bola comigo todos os sábados, hein? Meu filhão, quero que você saiba que eu te amo muito. Nunca esqueça disso. A tristeza e a dor que habitavam a minha alma, deram lugar à felicidade e à uma alegria extrema.
Sofia, César e Pedro se abraçaram docemente. Agora podiam sorrir novamente.
O médico entrou no quarto e disse com um sorriso nos lábios:
- Desculpa interromper esse lindo momento, mas o que eu venho informar é importante e, com certeza, é mais um motivo para vocês se alegrarem. Pedro, milagrosamente, não ficou com nenhuma sequela do acidente. Eu, como médico, estou abismado, mas muito contente com isso. A medicina realmente se cala quando milagres acontecem. Ei, Pedro, você é um garoto especial! Garoto iluminado e cuidado por uma mão poderosa: Deus.
Bom, mamãe e papai, Pedro ficará mais um dia no hospital em observação, apenas para ter a certeza plena de que ele está bem e pode ir pra casa tranquilamente. Amanhã vocês podem ir para casa com Pedro.
- Realmente, foi um milagre que salvou meu filho, foi Deus. Oh, doutor, que notícia boa, amanhã poderemos voltar para casa. Há dias desejo isso! Só tenho que agradecer a Deus, primeiramente e ao senhor, que fez tudo o que estava ao seu alcance para que ele se salvasse.
No dia seguinte, os três foram para casa tranquilos e felizes. Com o passar dos dias, Pedro voltou a ser aquele menino forte e saudável de antes. Ia à escola, saía para brincar e, aos sábados, jogava futebol com seu pai. Num dia sábado desses, quando os dois iam para o campo de futebol, Sofia disse:
- Eu amo vocês. Voltem logo. Farei aquele bolo de cenoura com cobertura de chocolate que vocês tanto gostam.
- Nós também te amamos, mamãe. Voltaremos assim que acabar o jogo, está bem? Tchau, mãe. Vamos, papai!
- Vamos sim, meu filho. - César falou piscando um olho para Sofia, como se dissesse eu te amo e saiu acompanhado de seu filho para mais uma partida de futebol.
(Erica Ferro)
2 comentários:
Tá lindo!Sem palavras...
Maravilhoso!!! Nem pisquei enquanto lia.
bj
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