Bolhas

em domingo, janeiro 31, 2010
Mais um fim. Fim de mês; o primeiro mês de 2010. Que tempo para voar! Que gente para ficar parada, estagnada, pensando no que será. Como será, se a gente não sai do lugar, nada faz; só espera?
Andemos, pois. Vivamos, pois. Suguemos os nutrientes dos dias, de todos os dias...!

Hoje quero postar uma crônica do meu querido Nivaldo Pereira; já havia postado crônicas dele aqui.
Resumo básico sobre Nivaldo: Jornalista e colunista do jornal Pioneiro de Caxias do Sul. Um ser humano extremamente carismático; digo isso pela troca de e-mails com ele, pela gentileza dele de me mandar um livro autografado, pelos elogios, enfim... É uma pessoa digna de admiração e respeito: grande jornalista, cronista e, claro, grande pessoa.

A crônica a seguir foi publicada no jornal Pioneiro, na sexta-feira. Confira originalmente aqui.

Bolhas

Duas cenas se ligam em minha mente, um mês de tempo entre elas. Ambas se passam na Rua Visconde de Pelotas, talvez daí a inevitável conexão. A primeira: dia 24 de dezembro, sol se pondo, eu desço a pé a rua, em direção à casa da amiga onde vou partilhar a ceia natalina. O silêncio é quase total sobre a cidade. Raros carros passam, todo mundo já encaminhado aos lares e aos ritos familiares de paz. Ouço um barulho cíclico atrás de mim, amplificado pela quietude da situação. Viro a cabeça. O Velho das Casquinhas puxando seus dois carrinhos. A barba comprida, o gorro vermelho surrado de Papai Noel, que ele usa o ano todo. Seguimos assim, eu na frente, ele logo atrás.

Tique-tique de rodinhas na calçada, nossos passos, rua vazia. Boca da noite de Natal, eu e aquele inusitado Papai Noel somos os únicos transeuntes da ladeira, após cruzar a Tronca. O que fazer? Cedo à emoção algo piegas da data e falo com ele qualquer bobagem, tipo Feliz Natal, mesmo sabendo o quanto ele é arisco? Ou viajo nesse momento no que ele tem de louco? O silêncio maior se impõe. Vez em quando o espio, ele me ignora. O tique-tique dos carrinhos do Velho magicamente reforça a quietude envolvente – bolha no espaço, asas de anjo cobrindo Caxias do Sul. Chego ao meu destino, ele passa, cabeça baixa. Acho nossa caminhada muda uma coisa estranha e bonita. Emoção intraduzível em palavras.

A outra cena, fins de janeiro, é mais rápida, até mais delicada na forma. No meio da tarde quente, uma grande bolha de sabão segue o fluxo dos carros. Uma bolha só, flutuando perto do chão, subindo, descendo. Vem da esquina da Rua Dezoito, no embalo do vento úmido do verão, e cruza pelo meio a Visconde. Vai estourar, vai estourar: encho-me de apreensão, atento aos segundos da milagrosa duração da bolha solitária. Impossível coisa mais banal, mas para mim é coisa luminosa. Tempo brevíssimo, mas intenso. Por fim, o toque do real, negro asfalto: ploft! Penso em falar disso. Falar de bolhas mágicas de luz e silêncio. De fugazes instantes em que os olhos veem, os ouvidos escutam e o coração sente.

Instantes raros. Quero mais.

(Nivaldo Pereira)

•••

Vem, Fevereiro! Vem, que eu vou te viver... Prometo! Janeiro, lamento por você ir, mas olha... Tu ficaste em mim, de algum modo, como todos os outros anos, meses e dias que já vivi. Adeus!

Postado por Erica Ferro

Sentido

em sexta-feira, janeiro 29, 2010
Que diferença faz quando fazemos as mesmas coisas procurando resultados divergentes?
Qual é o caráter do ser humano quando não possui quem amar, quem odiar, quem sentir saudade?
Qual é realmente o valor da vida para alguns que a desprezam como se não fosse nada?
Será que não aceitam não entender o que todo mundo não entende?
Viver é tão irreal que não nos damos conta enquanto vivemos do que é, essencialmente, viver...
Viver é amar? Respeitar? Odiar? Sentir? Ouvir? Ter? Gostar? Entender? Transar? Abraçar? Importar? Devanear?
Eu sinceramente não sei o que é viver... Não entendo o que significa estar aqui, no tal do planeta azul, e continuar a apenas estar...
Ações iguais significam resultados iguais? É, as circunstâncias demoram a mudar. E mudanças nem sempre são coisas boas.
O mundo precisa de novas posturas.
A vida precisa de novas surpresas.
E pra eu continuar vivendo, ou tentando entender o que é viver, preciso de você aqui.
Letícia Christmann

O que eu queria ouvir...

em quinta-feira, janeiro 28, 2010
O que você quer?
O que você faz?

O que você faz?
O que você quer?

As perguntas vão e voltam
A última se torna a primeira
Mas, no fim, são tudo a mesma coisa

O que você faz pelo o que você quer?
O que você é?
O que você tem sido?
Qual será o teu destino?
Sabes que tu és o mestre de obras?

Sabes que tu és o culpado por todo o teu fracasso?
É um clichê que você deve saber
Mas você chora e se lamenta

Te jogaram pimenta nos olhos?
Você hoje cospe fogo?
Por que não lava os olhos?
Por que não mata a sede?

E eu o que faço aqui, te criticando, te aconselhando?
Melhor sumir e deixar você aí?
Chorando e se lamentando?
Bebendo e fumando?

E eu aqui, falando tudo o que eu queria que falassem pra mim...

(Erica Ferro)



Mil anos sem postar aqui, desculpem. Ando estranha, calada, mas cheia, com muita vontade de falar, de escrever, de gritar. A postagem de hoje não foi escrita hoje nem ontem, foi em novembro do ano passado. Mas sei lá, me identifico sempre com ela. É isso, pessoal, acho que não vou ficar tanto tempo sem postar aqui. Um abraço pra vocês, devaneados!

A Estrada

em quarta-feira, janeiro 27, 2010
Era meu anseio pegar a estrada, olhar pela janela molhada e ver as coisas passarem. E nesse caso, a sensação de deixar algo para trás não é tão ruim. No meio do caminho eu cochilo, leio, sonho, relembro, sinto. Imagino o que pode ser daqui pra frente.

Ao correr na estrada dá certa insegurança e ao mesmo tempo liberdade. Além do horizonte enxergo algo alcançável. É sempre lindo a luz do sol refletindo no vidro da janela, o destino desejado chega e cada segundo me desperta uma sensação inexplicável.

Conhecer pessoas é uma das coisas mais construtivas. Passo a enxergar através de diversos olhares, me encanto com outros sonhos e viajo por novos caminhos. Encontro raras fontes de inspiração. Os lugares que visito me faz pensar nos lugares que passei.

É por aí que me bate a saudade. Saudosa saudade das pessoas que amo, do lugar que vivo e da estrada que caminhei. O bom é que posso voltar pela mesma estrada para o meu lugar e reencontrar as pessoas que amo - pelo menos a maioria. A diferença é que voltarei com mais lembranças, mais histórias, mais amores e com mais saudade. E compreendi que vida boa é aquela que lhe deixa saudade. E nada volta a ser exatamente como era, apenas a estrada continua lá e faz bem caminhar por ela.

Karol Coelho


*Quando planejava vir ao Rio de Janeiro me perguntaram se eu prefiria vir de avião. Eu dise que não. A estrada me deixa leve, livre e me proporciona lindas sensações. Agora a saudade de voltar por ela é grande. Quero reencontrar meus amores. Mas ao mesmo tempo meu coração se enche de novas saudades de novo amores que iniciei na Cidade Maravilhosa. Geração Futura 15, meu novo amor, minha nova saudade.

Fonte de Inspiração

em segunda-feira, janeiro 25, 2010
Estou buscando inspiração. Fico observando tudo em volta, analisando, tentando criar frases bonitas. Procuro não ser tão feminina e falar, sei lá, de política, desigualdade social, ou qualquer outro assunto.

Reclamar que está tudo fora do lugar faz parte e é bom que façamos. Mas, acho que tudo isso, quase sempre, é chato. Não é?

O negócio é que tenho obtido inspiração na maior das fontes. O AMOR. Ahhh, o amor. Aí, parece que tudo o que escrevo é bobo, infantil, simples demais.

Então, me lembrei do que disse Vinícius de Moraes, algo parecido com "se uma carta de amor não for boba, não é carta de amor". Fiquei pensando...

Quando você começa um romance, tudo fica lindo. Cada gesto, cada olhar significa horrores (rs) e nada parece dar errado. Quando você termina um relacionamento e tenta escrever algo, tudo parece muito dramático e triste e torna a ser bobo. Você se reúne com os amigos e sente que está com as pessoas mais importantes do mundo. Seu pai te olha um dia com mais ternura e você sente falta de quando ele chegava do trabalho a sua procura.

Isso é o amor! Ele une perfeitamente todos os sentimentos mais bonitos e ao chegar a essa conclusão, aparentemente tão clichê, deixo de me condenar por falar apenas de amor e de sentimentos que o acompanham. Até porque, "há tempo pra tudo" é o que diz a Bíblia e concordo com ela. Qualquer dia desses me inspiro em outras coisas. Mas já deixo claro: sempre falarei do amor e ele sempre será minha maior fonte de inspiração!

Karol Coelho

Vigília

em domingo, janeiro 24, 2010
(Inspirado em Não há de ser nada)


Faço vigília todas as noites. Do meu quintal consigo dar conta de todas as estrelas do céu. Espero que uma delas despenque num instante qualquer. Assim posso fazer um pedido. Meus sonhos estão na UTI. Esperança já não há. Os milagres todos estão em coma. Sigo só. Só me resta esperar.
Faço vigília todas as noites. Do meu quintal consigo dar conta de todas as estrelas. Certa vez dei por falta de uma delas. Era cadente, a estrela. Tive cinco segundos para fazer uma prece. E fiz. Enquanto fechava os olhos e imaginava meus sonhos acordando, milagres reagindo e esperança entrando pelo portão de casa. A estrela caía enquanto eu rezava. Perdeu a luz no fundo do mar. Sigo só, só me resta esperar.
Faço vigílias todos os dias. De cima do telhado consigo dar conta de todas as ondas. Torço para que uma delas saia do lugar e revele a luminosidade semicerrada na areia. Esconderijos de luz no fundo do mar. Estrela a brilhar, sonho a rir, esperança de pé: milagres se acontecendo.
(Maíra Viana em O Teatro Mágico em Palavras)

Postado por Letícia Christmann

Por dentro e por fora

em quinta-feira, janeiro 21, 2010
Hoje eu fiz uma limpeza... Dentro e fora de mim.
Abri meu armário, espalhei tudo pelo quarto, e joguei as coisas velhas e inúteis fora.
Eu gostaria de ter jogado muitas dessas coisas pela janela... Para ter certeza que me livrei delas.
São palavras vazias, fotos com sorrisos falsos, sentimentos que já não existem mais (e talvez nunca existiram de verdade). Cartas e recados que não fazem mais sentido, livros que já não possuem conteúdo algum, com as páginas em branco, ou quase.
Depois de esvaziar meu armário, tentei esvaziar meu coração. Da raiva, do medo, da tristeza, do vazio. De tudo que o faz ficar dia após dia mais apertado. Parece que dói pra respirar.
Tem coisas que eu não consegui jogar fora. Aquela pasta do terceiro prezinho, ou a lembrança antiquada, que insiste em atormentar.
Mesmo assim, me surpreendi quando notei que foram sacos e mais sacos para a lixeira.
No lixo, entre os quilos de papéis, litros de lágrimas (de tristeza, e raiva também), haviam sorrisos há muito amarelados.
Entre as ruínas do que restou, ainda existe um pouco de vida, amor e compreensão. Amigos reais, histórias reais, palpáveis, amáveis.
Percebi, por fim, que tudo estava cheio de pó. Sejam os sorrisos verdadeiros, os bonecos de porcelana de anos ou os sentimentos ruins. O que restou precisou ser limpo.
Concluo que preciso voltar a sentir.

Letícia Christmann

Eu quero

em quarta-feira, janeiro 20, 2010
Quando eu voltar quero:

Abraco
Massagem
Colo
Sorriso
Olhares, profundos
Beijos, muitos
Mãos
Palavras, boas
Chamego
Sua voz no meu ouvido
Seu cheiro
Arrepio
Quero você inteirinho

Dá pra me dar tudo isso?

Karol Coelho

Parece coisa de crianca, né? Ah, foi o que saiu! rs
em
VERBO SER
___
Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor.
Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três.
E sou?
Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser?
Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a?
Posso escolher?
Não dá para entender.
Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.




___

QUADRILHA

___

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
___
As sem-razões do amor
___
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
___
(Carlos Drummond de Andrade)
Obs: É bom ser simples.
Pra quê palavras difíceis ?
Tudo as vezes já é tão compicado!
Karol Coelho

A casa da árvore

em domingo, janeiro 17, 2010
(Inspirado em Mais e Menos)

E na casa da árvore entretinha-se imaginando a preocupação de todos ao darem por seu sumiço. Com o tempo, se acostumariam à idéia de viver sem a presença dele e, sem dúvida, se sentiriam aliviados. Não passariam mais pelo constrangimento de ter que justificar seu modos selvagens, sua costumeira clausura, seu silêncio telepático e aquela velha mania de transformar a vida em teorema. E na casa da árvore veria os anos caminharem lentos no compasso de cada dia de sol, eclipse e tempestade. E cravaria a sorte no tronco espesso que sustentaria seu mundo. E na casa da árvore fabricaria histórias frondosas das pessoas que habitavam as cavernas de seu coração. Plantaria as sementes na certeza de que alguém, algum dia, colheria seus frutos. Aos domingos, tomaria chá ouvindo Sinatra num radinho de pilha carregando no olhar a certeza de ter feito as coisas do seu jeito. E já não seria mais necessário contemporizar seus modos bravios, sua reclusão habitual, e aquela velha mania de transfomar a morte em teorema.
Por Maíra Viana em O Teatro Mágico em Palavras

É, as vezes a vontade é de sumir. E não precisar se explicar.
Postado por Letícia Christmann

Mergulho

em
Hoje eu vi o mar
Arpoador
As águas batiam nas rochas
E a espuma era branca
Fechei os olhos
Ouvi o mar
Senti-me pequena
Sonhei em ser grande
Pensei em ser seu
Todo o meu amor
Lembrei de pessoas
De carinhos
Lembrei das flores
Do caminho
Mergulhei em mim
Afoguei-me em ti
Salvei-me em nós

Karol Coelho
*Minhas flores, hoje encontrei a beleza do Rio de Janeiro. Vi a praia do Arpoador, e vou voltar lá pra ver o Sol nascer e se pôr também. Quem sabe a inspiração vem a tona, né? Impossível não vir. Devaneios com o mar... Sensacional!

Clamor da eternidade...

em sábado, janeiro 16, 2010
Porque gritar também significa clamar
E eu clamo por você
Por seu amor
Pelo o que você esconde por dentro
O seu melhor
É isso que quero de você

Venha, me envolva
Venha, me devolva o sono
Venha, me devolva tudo o que me roubaste
Roubaste-me de mim quando apareceste em meu viver

Sonho todas as noites com os beijos teus
Os carinhos e as juras
Ah! Doces sonhos
Doces ilusões
Tu és toda doçura
E eu te quero por uma vida e meia
Não! Te quero pela eternidade inteira!

(Erica Ferro)

Enquanto...

em sexta-feira, janeiro 15, 2010
Enquanto puder ser abraços,
Enquanto puder ser colo,
Enquanto puder ser cores,
Enquanto puder ser prioridade,
Enquanto puder ser sorte,
Enquanto puder ser carinho,
Enquanto puder ser amigo (acima de tudo),
Enquanto puder ser coração,
Enquanto puder ter paciência,
Enquanto puder ter simplicidade,
Enquanto puder ter sinceridade,
Enquanto puder ter sentimentos,
Enquanto puder ter ajuda,
Enquanto puder ter estrelas,
Enquanto puder ter assuntos,
E ainda assim,
Se for dor,
Se for raiva,
Se for desconfortável,
Se for estranho,
Se for opostos,
Se for espinhos,
Se for lágrimas,
Se for azar,
Se for confusão...
"Enquanto for um beijo meu...
Serás vida, bem vinda...
Terás vida, bem vinda...
Viva em mim!"
Letícia Christmann
*Último trecho da música Realejo, O Teatro Mágico

Perdida

em quinta-feira, janeiro 14, 2010
Por aqui?

Por alí?

Não

Acho que vou pra lá!


Pra onde leva esse caminho?

Ih!

Não dá mais pra voltar

E agora?


Encontrei algo no meio do caminho

Agora ando acompanhada

O caminho mudou?


Deixei algo cair

Deixa eu voltar pra buscar?


Me perdi!

Espere

Vou logo me encontrar

Qualquer coisa você me encontra?



Karol Coelho

Presságio

em
O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa



Meus caros devaneados, cá estou eu atualizando o blog mais uma vez, porém desta vez com um certo "orgulho". Viram o novo "visual" do blog, não é? Pois então, Erica Ferro que fez (eu mesma, que orgulho de mim! okay, menos, Erica... menos...)! Tive como base um modelo do próprio blogger e comecei a "devanear" nele. Espero que tenham gostado da nova cara do Pensamentos Devaneantes!

Ah, Fernando Pessoa? Diante dele também me calo. E do amor também.

Postado por Erica Ferro

Dois Cânticos e uma Canção

em terça-feira, janeiro 12, 2010
Dois Cânticos e uma Canção

Cecília Meireles

Cântico II

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu



Canção Mínima

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta



Cântico VI

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.
_

Os cânticos e a canção acima foram extraídos da "Antologia Poética", Editora Record - Rio de Janeiro, 1963, págs.25, 32 e 45.
_


*Fonte do post: Releituras.

Diante de Cecília, me calo.

Postado por Erica Ferro

Falta

em segunda-feira, janeiro 11, 2010
"Pra onde você vai?"
Perguntei
Na verdade só tive vontade
Mas devia ter perguntado
___
Em silêncio ele sempre se vai
Nunca diz pra onde
Nem com quem
___
A dúvida me invade
O vazio me enche
A sua voz me cala
Sua ausência não convence
___
Continuo a sentir sua falta

Karol Coelho

Aos poucos...

em
Na primeira noite
Eles se aproximam
E colhem uma flor
De nosso jardim
E não dizemos nada.
Na segunda noite
Já não se escondem:
Pisam as flores, matam nosso cão
E não dizemos nada.
Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa
Rouba-nos a lua e
Conhecendo nosso medo
Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.

Eduardo Alves da Costa inspirado em Maiakovisk
Postado por Letícia Christmann

Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor

em domingo, janeiro 10, 2010
Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e, antes de entrar,
Revi a vida inteira.
Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois,
Sinais de bem, desejos de cais
Pequenos fragmentos de luz
Falar de cor dos temporais
do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá, sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer um sonho acontecer
___
Pensei no tempo, e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça
Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora, o dia já clareou...
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar
Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
bater mais forte só por você
O mundo lá, sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

_

To viciada nessa música da Bruna Caram

Karol Coelho

Pequenos compositores

em
Somos pequenos.
Diante do mar
Diante do amor
Diante da chuva
Diante do prédio
Diante do poder
Diante do céu
Diante do furacão
Diante da promessa
Diante da saudade
Diante da organização das formigas
Diante do castelo de cartas
Diante do sol
Diante da lua
Diante das lágrimas
Diante da morte
Diante de escolhas
Diante de competições
Diante da perfeição
Diante das flores
Diante das estrelas
Diante de tempestades
Somos pequenos
Apenas pequenos
Que de uma maneira ou de outra
Seja pra um final feliz ou triste
Fazemos parte do todo
Porque... Se não fosse a gente...
Quem estaria aqui pra notar o quanto somos insignificantes para a beleza do mundo?
Letícia Christmann

"O velho e a flor...♫"

em sábado, janeiro 09, 2010
Hoje eu quero fazer vocês chorarem. É, chorarem! Mas será um choro agradável, bom; eu prometo.
Acontece é que hoje eu estou meio solitária, meio "refletindo na vida". E, mais uma vez, o álbum "O poeta e o violão" mexeu e me emocionou bastante, até pelo fato de ser, como o próprio título do álbum sugere, pura poesia e encantamento.

E hoje eu chorei ouvindo uma faixa do álbum. O nome da música é "O velho e a flor". Não tenho palavras para expressar o que eu senti ouvindo-a, mas posso dizer que foi uma sensação linda... Eu senti a poesia tocar meu coração, envolver todo o meu corpo. A letra da música é mais do que linda... A melodia é encantadora, te arrebata com força da Terra e te leva pr'um mundo de poesia e deslumbramento indescritível.

Sem mais enrolação, vou-lhes mostrar a letra dessa música profundamente linda e o vídeo da mesma.
Bom choro!

O Velho E A Flor

Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:

O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor







Postado por Erica Ferro

Seja...

em sexta-feira, janeiro 08, 2010
Triste, mas não amargo.
Introspectivo, mas não solitário.
Crítico, mas não azedo.
Cético, mas não cínico.
Complicado, mas não intolerável.
Sincero, mas não inconveniente.
Veemente, mas não agressivo.
Alegre, mas não leviano.
Grave, mas não iracundo.
(Ricardo Gondim)
Postado por: Karol Coelho

O poeta e o violão...♫

em quarta-feira, janeiro 06, 2010
Como ando bastante viciada em Vinícius e Toquinho, mais precisamente no CD "O poeta e o violão", vou deixar aqui um vídeo maravilhoso, vale ressaltar, de um pout-pourri de três músicas que tem nesse CD.
Espero que vocês curtam muito, como eu curti.

A seguir, trechos das letras que eu mais gosto dessas três músicas e, finalmente, o vídeo.

Berimbau / Consolação

"Quem é homem de bem, não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai, não vai
E assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem..."

•••

Chega de saudade

"Vai, minha tristeza,

E diz a ela que sem ela não pode ser,
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade
A realidade é que sem ela não há paz,
Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai..."

•••

Canto de Ossanha

"O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor..."



Postado por Erica Ferro

Sequência dos Fatos

em terça-feira, janeiro 05, 2010
O abraço
Foi simples
Ele a abraçou com ternura
Ela encostou sua cabeça em seu ombro
Ele encostou-se na parede
Ela continuou em seus braços
O silêncio
Foi quebrado
Ele procurou palavras
Ela nem sabia o que dizer
Ele procurou seus olhos
Ela os desviava tímida
O carinho
Foi inexplicável
Ele beijava sua face
Ela fechava seus olhos
Ele a olhava
Ela enxergava sua boca
O desejo
Foi atiçado
Ele tocava seu rosto
Ela aproximava o seu ao dele
Ele olhava sua boca
Ela olhava seus olhos
O beijo
Foi pedido
Ele aproximou-se mais
Ela tentou hesitar
Ele a beijou
Ela recebeu
O adeus
Foi necessário
Ele desejou que o momento fosse eterno
Ela já sabia que seria
Ele pediu mais um momento
Ela se foi
O momento
Foi intenso
Foi eternizado
Ele a guardou dentro de si
Ela sente ainda cada gesto
Ele ainda sente o abraço
Ela o guardou dentro de si
"Porque abraço é amor..."
Karol Coelho

Mais Uma Que Devaneia

em segunda-feira, janeiro 04, 2010
Já vou dizendo logo que me encanto com qualquer besteira. Qualquer riso me alegra.
Minha paixão são as pessoas, pois são suas histórias que me inspiram. Alguns acham desnecessária essa minha paixão, mas sem ela, eu não sou eu.
Amo as palavras... amo, porque são resultado de sentimentos, pensamentos, ações... mas ao mesmo tempo aprecio o silêncio e admiro quem consegue mantê-lo.
A lua me fascina, o dia me incentiva. E sou muito avoada! Ah, como sou! Fico olhando o nada, imagino ciclos, realizo vôos, completo pousos.
Meu nome significa viril e forte, e confesso as vezes realmente me sentir assim. Mas, não é que eu seja. Na verdade, eu tento ser.
Ah, acho que ninguém ama de verdade, se não aproveita as oportunidades de amar. Nem é corajoso, nem amigo, nem feliz, nem nada... é muito fácil dizer que é, mas muito difícil é aproveitar as oportunidades de ser. Então, eu tento aproveitar essas oportundidades. Eu faço de tudo pra que o meu amor não se esfrie e fujo da minha natureza pecaminosa. Ainda sou um mundo desconhecido.
Sempre carrego meus amigos. Nunca sufoco as saudades. De vez em quando eu caminho sozinha. Procuro encarnar os sentimentos do Divino. Sou amada. Sonhadora. Realizadora. Forte.
Prazer, sou mais uma que devaneia...
Karol Coelho

O todo

em domingo, janeiro 03, 2010
Toda a loucura tem pitadas de sanidade.
Toda a abstinência tem gotas de fome.
Toda a tempestade esconde um sol em seus trovões.
Todo não-querer quer algo com todo furor,
Mas repreende-se por pudor.

Todo desejo oculta uma paixão,
Uma inquietação.
Toda fortaleza maquia uma fraqueza.
Toda incompreensão encobre um ceticismo.

Todo silêncio abafa um grito.
Todo grito grita por silêncio.
Todo falar pede um ouvir.
Todo ouvir pede um falar.
Todo pensar pede um agir.
Todo agir pede um pensar.

Todo amor guarda uma paixão.
Toda paixão arde em desejo.
Todo desejo pede assassinato.
Todo assassinato mata uma fome,
Seja por barriga vazia,
Insanidade,
Agonia,
Medo,
Impiedade
Ou maldade.

Toda busca demonstra um desencontro.
Todo desencontro anseia por uma busca.
Todo desencontro chama uma loucura.
Toda loucura grita por um amor.
Todo o amor morre com um grito,
Um grito de não reciprocidade.

E todo amor morto, renasce com outro.

(Erica Ferro)

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Primeira postagem do ano! Que lindo isso, hein?
Esse poema tinha publicado ontem, no meu blog individual, o Sacudindo Palavras.
Ah! Vou adiantar uma coisinha. Quer dizer, só dizer que teremos novidades em breve aqui, no Pensamentos Devaneantes.
Acho que vocês vão gostar!
Um abraço da Erica Ferro, o primeiro do ano.

Sempre pela primeira vez...

em sexta-feira, janeiro 01, 2010
(Inspirado em De Ontem em Diante)

É como se eu nascesse todo dia. Não é incrível que existam bananeiras, abacateiros e jabuticabeiras? De onde será que veio tudo isso? Todo dia eu me faço as mesmas perguntas. É como se eu estivesse vendo as coisas do mundo sempre pela primeira vez. Os vales, a chuva, os mares. A terra, os animais e as florestas. O fogo, o tempo e a claridade. Sem falar no céu com todas as suas estrelas e na lua com todas as suas fases. Com surgiu tudo isso? Os meus porquês são palavras incontáveis. O sentimento de absurdo me invade quando reparo na arquitetura humana. O sistema nervoso, veias e artérias, músculos e ossos, cérebro e coração. Bocas e braços, narizes e olhos, ouvidos e mãos. O ser humano é feito de uma perfeição absurda. Realmente inexplicável. Me admiro o tempo inteiro e acredito que nunca vou me acostumar com as coisas do mundo. Quem criou tudo isso? A resposta óbvia me remete a Deus e eu pergunto: Se Deus criou tudo, quem criou Deus? Se tudo surgiu Dele, de onde Ele surgiu então? As perguntas continuam sendo as mesmas, só mudou o sujeito da oração. Eu vejo as coisas do mundo como quem assiste a um espetáculo de mágica. Num grande truque, o belo coelho branco surge de dento da cartola , até então, vazia. Como assim? Não sei. Mas quero muito saber. Todo dia eu acordo buscando saber quem sou e de onde vem o mundo. E me faço as mesmas perguntas. É como se eu estivesse vendo as coisas do mundo sempre pela primeira vez. É como se eu nascesse de novo, todo dia.
(Maíra Viana em O Teatro Mágico em Palavras)
Me lembrou ano novo esse conto.
"É como se eu nascesse de novo, todo dia..."
Esse é o espírito!

Postado por Letícia Christmann
 
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