Bolhas

em domingo, janeiro 31, 2010
Mais um fim. Fim de mês; o primeiro mês de 2010. Que tempo para voar! Que gente para ficar parada, estagnada, pensando no que será. Como será, se a gente não sai do lugar, nada faz; só espera?
Andemos, pois. Vivamos, pois. Suguemos os nutrientes dos dias, de todos os dias...!

Hoje quero postar uma crônica do meu querido Nivaldo Pereira; já havia postado crônicas dele aqui.
Resumo básico sobre Nivaldo: Jornalista e colunista do jornal Pioneiro de Caxias do Sul. Um ser humano extremamente carismático; digo isso pela troca de e-mails com ele, pela gentileza dele de me mandar um livro autografado, pelos elogios, enfim... É uma pessoa digna de admiração e respeito: grande jornalista, cronista e, claro, grande pessoa.

A crônica a seguir foi publicada no jornal Pioneiro, na sexta-feira. Confira originalmente aqui.

Bolhas

Duas cenas se ligam em minha mente, um mês de tempo entre elas. Ambas se passam na Rua Visconde de Pelotas, talvez daí a inevitável conexão. A primeira: dia 24 de dezembro, sol se pondo, eu desço a pé a rua, em direção à casa da amiga onde vou partilhar a ceia natalina. O silêncio é quase total sobre a cidade. Raros carros passam, todo mundo já encaminhado aos lares e aos ritos familiares de paz. Ouço um barulho cíclico atrás de mim, amplificado pela quietude da situação. Viro a cabeça. O Velho das Casquinhas puxando seus dois carrinhos. A barba comprida, o gorro vermelho surrado de Papai Noel, que ele usa o ano todo. Seguimos assim, eu na frente, ele logo atrás.

Tique-tique de rodinhas na calçada, nossos passos, rua vazia. Boca da noite de Natal, eu e aquele inusitado Papai Noel somos os únicos transeuntes da ladeira, após cruzar a Tronca. O que fazer? Cedo à emoção algo piegas da data e falo com ele qualquer bobagem, tipo Feliz Natal, mesmo sabendo o quanto ele é arisco? Ou viajo nesse momento no que ele tem de louco? O silêncio maior se impõe. Vez em quando o espio, ele me ignora. O tique-tique dos carrinhos do Velho magicamente reforça a quietude envolvente – bolha no espaço, asas de anjo cobrindo Caxias do Sul. Chego ao meu destino, ele passa, cabeça baixa. Acho nossa caminhada muda uma coisa estranha e bonita. Emoção intraduzível em palavras.

A outra cena, fins de janeiro, é mais rápida, até mais delicada na forma. No meio da tarde quente, uma grande bolha de sabão segue o fluxo dos carros. Uma bolha só, flutuando perto do chão, subindo, descendo. Vem da esquina da Rua Dezoito, no embalo do vento úmido do verão, e cruza pelo meio a Visconde. Vai estourar, vai estourar: encho-me de apreensão, atento aos segundos da milagrosa duração da bolha solitária. Impossível coisa mais banal, mas para mim é coisa luminosa. Tempo brevíssimo, mas intenso. Por fim, o toque do real, negro asfalto: ploft! Penso em falar disso. Falar de bolhas mágicas de luz e silêncio. De fugazes instantes em que os olhos veem, os ouvidos escutam e o coração sente.

Instantes raros. Quero mais.

(Nivaldo Pereira)

•••

Vem, Fevereiro! Vem, que eu vou te viver... Prometo! Janeiro, lamento por você ir, mas olha... Tu ficaste em mim, de algum modo, como todos os outros anos, meses e dias que já vivi. Adeus!

Postado por Erica Ferro

5 comentários:

Ana Seerig disse...

Ah, eu comentei tudo via MSN!

Eu adoro o Nivaldo e suas belas crônicas!

Bom, e o Velho da Casquinha é uma lenda viva!

uma criança. disse...

A Bolha solitária, tão intensos são os mais breves momentos, que serão eternamente recordados, com algum significado igualmente intenso a nós. São destes momentos que se faz a vida.

Rebeca Postigo disse...

Que lindo...
Acho que são as únicas palavras que posso dizer diante dessa crônica...
Amei!!!

Bjs

Thai Nascimento disse...

Que fevereiro seja recheado de instantes raros como esses...

Amei a crônica!

(:

Anônimo disse...

Adeus Janeiro de 2010 :D e também prometo que fevereiro vou aproveitar mais hihi :D adorei

 
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