Foi devagar que aconteceu. Ela ia percebendo, aos poucos, a dificuldade de ser o que era, do que queria ser. O mundo exigia cada vez mais. Sorrisos são bem mais fáceis de aparecerem do que lágrimas de desgosto. A verdade, para ela, é que a felicidade era mais fácil de ser fingida do que a honestidade das lágrimas que guardava dentro de si. Do que a mágoa que se acumulava disfarçada em sorrisos e conversas sem pesos e, em sua maioria, sem seriedade. O rosto sereno era treino, aprendera a ser assim, uma vez que o abismo que se abria em seu peito não era bem visto pela sociedade. E foi assim, adestrada pelo mundo e suas exigências que ela ia aprendendo a ser o que não era e, consequentemente, ia aceitando e se acostumando com algo que não lhe pertencia.
Era um problema sua sinceridade, sua honestidade. Era um problema seu mundo de pequenas lembranças inesquecíveis. Era um problema o dia do mau humor, e o dia do humor elevado. Na realidade, era um problema ser quem era, o que sentia, o que pensava.
Percebeu que uma pessoa como ela não era bem vinda num mundo de aparências. E concluiu que não pertencia àquele lugar. Devia ser de Marte, Júpiter, nascera nas estrelas. Seus sonhos não eram segredos, suas ambições não era anormais, seus sentimentos... Estes ela sabia que todo mundo sentia, mas encontravam-se disfarçados em sorrisos e xícaras de chá. Não, não era ela a anormal. Era o mundo irreal, de fingimentos e aparências.
Honestidade, sinceridade, mau humor não são itens listados na página de pecados. São itens esquecidos pelo mundo, uma vez que não se pode ser quem é porque é, e porque quer. E sim quem não é porque precisa ser, visto que o mundo pede mais, e quem pede, no fundo, não sabe porque pede. Ela ainda se perguntava: onde tudo aquilo ia parar?
"No mundo atual, está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do mal de Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos velhas de seios grandes e velhos de pau duro, mas eles não se lembrarão para que servem." (Dr. Dráuzio Varella)
Letícia Christmann
4 comentários:
hauahauahauah
Ah... mas isso é fácil... é só eles assistirem tv.
Hum... complicado a superficialidade da cultura ocidental... a cultura brasileira não precisa seguir essas regras... ainda podemos mudar. Acho...
xD
Não há espaço para ser o que somos. O mundo quer que sejamos de outra forma, de qualquer outro jeito, do jeito que convém que sejamos. E é por isso que eu vivo angustiada, presa ao que eu não quero ser, por não me deixarem ser o que eu sou.
[Ri da frase do Varella, rs...]
Erica,
Sim porque as embalagens sempre contam mais que o conteúdo, porque o conteúdo às vezes não vende ou não é aceito porque não é fácil ou comum, ou é o comum que assusta?
Precisamos sempre estarmos disfarçados de nada e de plástico para que as pessoas achem nossos sorrisos mais belos e mais aceitáveis... Os sentimentos verdadeiros às vezes tem cheiros fortes, cheiros fortes...
Bjs, texto brilhante!
Que sua semana tenha pessoas reais ao seu lado...
Me perdoe Letícia, acabei fazendo o comentário para a Érica...
Considere por favor meu engano.
Bjs
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