Era composta assim: um pedacinho de cada um.
Gostava de todas as suas cicatrizes, todas as rugas devido aos risos e também aos choros.
Preferia sentir dor comparado a não sentir nada.
Tinha dentro de si, uma lembrança de cada. Pequena, grande, estranha, quadrada, redonda, inteira ou despedaçada. Tinha em si o mundo todo, e cabia muito mais.
Era o que era, e o que havia escolhido ser, aceitando todas as consequências devido ao seu modo de ver o mundo.
O mundo. Mudou muitas e muitas vezes seu ponto de vista em relação à ele. Viver é mudar, remudar e mudar de novo.
Era mudança, a mudança que cabia em si. Entendia que tudo mudava. Mas todos os olhares, momentos e amigos que carregava consigo, eles sim era algo que nunca mudaria. Felicidade ou angústia, fazia parte dela.
Estava começando a entender o que é envelhecer, ter experiência de vida. E o que tempo curava ou qual cicatriz ele deixava.
Tudo caminhava ao devir do ser e deixar de ser.
Não tinha mais medo da mudança, agora seu medo era da memória. E do esquecimento.
"E ninguém dirá que é tarde demais,
Que é tão diferente assim...
Do nosso amor a gente é quem sabe."
(Los Hermanos)
Ps. Você me pediu, e aqui está. Marcelo, esse é pra você.
"E pra nós dois, sair de casa já é se aventurar..."
Letícia Christmann