Um dia de pesadelos...

em domingo, agosto 23, 2009
Tantos acontecimentos num mesmo dia. A morte do pai, o infarto da mãe e o desespero do irmão. E ela? Ela ficou sem reação, chocada, absorta em pensamentos.
Não podia ser verdade que seu pai, seu querido pai, tivesse morrido num acidente de moto.
Não, não podia ser verdade que sua mãe, ao saber a notícia da morte do pai, tivesse sofrido um infarto e estivesse à beira da morte.
Era um pesadelo. Sim, um horrível pesadelo! Não, não, ia além de pesadelo, era quase irônico. Ironicamente verdadeiro, um pesadelo.
A tia tinha se oferecido a ficar no hospital com a irmã, mãe de Pâmela. Disse que ia ficar tudo bem, que Jussara ia melhorar, que ela era forte. Pâmela fez um gesto de cabeça, como se dissesse "eu acredito". Mas um acredito bem cansado e pouco crente, na verdade.
Ela estava realmente a ponto de desabar. Um corpo frágil como o dela não havia de suportar uma montanha rochosa caindo sobre ele, o esmagando. Não havia mesmo.
Na cama, olhando para o que estava além da janela, uma chuva fina, como se o céu estivesse chorando, se compadecendo de sua desgraça e dor, lembrava dos olhares dos vizinhos, olhares como de quem se desculpa, de quem abraça com um sorriso meio envergonhado, mas reconfortante. Não, não era olhar de quem quer confortar. Era pena mesmo, ela sabia.
Mas não tinha raiva de que sentissem pena dela, não tinha forças pra isso. Ela se sentia desgraçadamente miserável, triste também, absolutamente triste. Tudo havia perdido a cor, o brilho e o cheiro. A vida perdeu o sentido. Não havia mais razão para comer, dormir ou viver. Não havia mais. Mas, sobressaltada, teve um lapso de sanidade e revelação "Não, não, eu ainda tenho razão para viver. Minha mãe ficará boa, eu sei. Não pode acontecer tantas desgraças com uma pessoa que tem apenas 12 anos. Não, não pode."
Caiu num choro forte e ininterrupto. O que tinha vivenciado naquele horrível dia parecia disco arranhado na cabeça da pobre menina - Pâmela achava que não conseguiria dormir, que morreria de tanta dor e agonia. O que ela não compreendia, pois não tinha condições de pensar logicamente, era a possibilidade de os pensamentos cessarem.
De tanto chorar e pensar nas coisas horrendas e quase inacreditáveis daquele dia, dormiu. Sonhou que tudo aquilo não passava de um horrível pesadelo, que a mãe e o pai estariam esperando ela e o irmão para mais uma refeição matinal.

(Erica Ferro)

2 comentários:

Ana Filipa Silva disse...

Ai, que lindo que ficou, amiga!

Tocou-me tanto essa história, tem tanto sentimento...

Lindo *-*


Beijinho :*

Letícia disse...

Você sempre diz muito... De uma forma que penetra na gente que sei lá, sem palavras...

 
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