Cecília Meireles
Cântico II
Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu
Canção Mínima
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
Cântico VI
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
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Os cânticos e a canção acima foram extraídos da "Antologia Poética", Editora Record - Rio de Janeiro, 1963, págs.25, 32 e 45.
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*Fonte do post: Releituras.
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Diante de Cecília, me calo.
Postado por Erica Ferro
4 comentários:
lindos *-*
Conheço pouco da Cecília Meireles.
Ótima escolha.
Condiz com a maneira como tento responder às perguntas que faço a mim mesmo.
Mas afinal, o que é eterno nessa vida? Apenas eu?
Ótima escolha [2]
Perfeitos!!! *-*
Bjs
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